A semana foi marcada por um artigo que pode ser classificado
como troll, portanto lide com ele usando luvas de amianto: um artigo da Wired
na CNN dizendo que a Apple matou o desktop Linux, construído a partir das
declarações de uma fonte primária cujo histórico a coloca em posição de poder
ser consultado a respeito (mas não de ser o único consultado, claro), ainda que
se discorde de sua opinião: o criador do ambiente gráfico GNOME, Miguel de
Icaza.
O título dado pelo jornalista é “Como a Apple matou o
desktop Linux”, mas o argumento de Icaza não se reduz à Apple, e muito menos
diz que os usuários do Linux no desktop estão migrando para o ambiente (com
laços fortes com o Unix BSD) existente nos Macs, mas sim que parcela
considerável dos desenvolvedores que impulsionaram o desenvolvimento do desktop
Linux migraram para outras plataformas – não só os Macs: ele frisa que muitos
estão voltados para a Open Web (que também é positiva para os usuários de
Linux), eu percebo que muitos estão atentos às plataformas móveis, e assim por
diante.
O próprio GNOME criado por Icaza hoje não vive seu momento
de maior aceitação, e tenho dúvidas se voltará a vivê-lo, mas na minha opinião
isso vem pouco ao caso para os usuários de Linux que lerão este artigo: eles
nos dirão que vão usar o ambiente desktop que melhor lhes atender, pois há
vários outros, embora o GNOME tenha anteriormente alcançado um grau de sucesso
interessantíssimo.
Outro aspecto mencionado por Icaza é que na visão dele “o
desktop open source” (que, descrito assim no singular, é para mim uma entidade
bastante abstrata) foi menos atrativo para esta geração de desenvolvedores que
migrou para outras plataformas, porque praticou muitas vezes o jogo da quebra
da compatibilidade retroativa, ou seja, o surgimento de novas versões do
sistema que mudam o jeito de fazer as coisas e tornam incompatíveis os códigos
e habilidades previamente desenvolvidos pelos interessados. É um fenômeno que
já vivi, e felizmente noto em determinados projetos open source grande esforço
para evitar ou reduzir.
Já na web a situação é diferente: nos bastidores e debaixo
do capô do motor o open source predomina, com nomes como Apache, Nginx, Python,
PHP, Ruby on Rails, Hadoop, MongoDB e Xen continuando a fazer a alegria de
desenvolvedores que se dirigem a um conjunto de usuários bem maior do que se
estivessem voltados à fatia dos desktops open source.
O fenômeno inclusive fez aumentar a relevância dos
movimentos a favor de uma web aberta, explicando movimentos como o de Stormy
Peters, anteriormente diretora da GNOME Foundation e hoje militando a favor da
web aberta, no âmbito da Mozilla (cujo foco em aplicativos para o desktop open
source há muito vem perdendo o brilho).