segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Jornalista está cada vez mais doente

Chegou por e-mail. Fui procurar a fonte e achei o texto de Elaine Tavares na página do Sindicato dos Jornalistas de Santa Catarina . A pesquisa encontrei no site da Fenaj. Independentemente do autor, vale uma profunda reflexão.

O psicólogo, professor e pesquisador da Fundação Getúlio Vargas, Roberto Heloani, conseguiu levantar um perfil devastador sobre como vivem os jornalistas e por que adoecem. O trabalho ouviu dezenas de profissionais de São Paulo e Rio de Janeiro, a partir do método de pesquisa quantitativo e qualitativo, envolvendo profissionais de rádio, TV, impresso e assessorias de imprensa. E, apesar da amostragem envolver apenas dois estados brasileiros, o relato imediatamente foi assumido pelos delegados ao Congresso de Santa Catarina – que aconteceu de 23 a 25 de julho - evidenciando assim que esta é uma situação que se expressa em todo o país.

Segundo Heloani a mídia é um setor que transforma o imaginário popular, cria mitos e consolida inverdades. Uma delas diz respeito à própria visão do que seja o jornalista. Quem vê a televisão, por exemplo, pode criar a imagem deformada de que a vida do jornalista é de puro glamour. A pesquisa de Roberto tira o véu que encobre essa realidade e revela um drama digno de Shakespeare. Nela, fica claro que assim como a mais absoluta maioria é completamente apaixonada pelo que faz, ao mesmo tempo está em sofrimento pelo que faz, o que na prática quer dizer que, amando o jornalismo eles não se sentem fazendo esse jornalismo que amam, sendo obrigados a realizarem outra coisa, a qual odeiam. Daí a doença!

Um dado interessante da pesquisa é que a maioria do pessoal que trabalha no jornalismo é formada por mulheres e, entre elas, a maioria é solteira, pelo simples fato de que é muito difícil encontrar um parceiro que consiga compreender o ritmo e os horários da profissão. Nesse caso, a solidão e a frustração acerca de uma relação amorosa bem sucedida também viram foco de doença.

Heloani percebeu que as empresas de comunicação atualmente tendem a contratar pessoas mais jovens, provocando uma guerra entre gerações dentro das empresas. Como os mais velhos não tem mais saúde para acompanhar o ritmo frenético imposto pelo capital, os patrões apostam nos jovens, que ainda tem saúde e são completamente despolitizados. Porque estão começando e querem mostrar trabalho, eles aceitam tudo e, de quebra, não gostam de política ou sindicato, o que provoca o enfraquecimento da entidade de luta dos trabalhadores. “Os patrões adoram, porque eles não dão trabalho”.

Outro elemento importante desta “jovialização” da profissão é o desaparecimento gradual do jornalismo investigativo. Como os jornalistas são muito jovens, eles não tem toda uma bagagem de conhecimento e experiência para adentrar por estas veredas. Isso aparece também no fato de que a procura por universidades tradicionais caiu muito. USP, Metodista ou Cásper Líbero (no caso de São Paulo) perdem feio para as “uni”, que são as dezenas de faculdades privadas que assomam pelo país afora. “É uma formação muitas vezes sem qualidade, o que aumenta a falta de senso crítico do jornalista e o torna mais propenso a ser manipulado”. Assim, os jovens vão chegando, criando aversão pelos “velhos”, fazendo mil e uma funções e afundando a profissão.
Um exemplo disso é o aumento da multifunção entre os jornalistas mais novos. Eles acabam naturalizando a idéia de que podem fazer tudo, filmar, dirigir, iluminar, escrever, editar, blogar etc... A jornada de trabalho, que pela lei seria de 5 horas, nos dois estados pesquisados não é menos que 12 horas. Há um excesso vertiginoso. Para os mais velhos, além da cobrança diária por “atualização e flexibilidade” há sempre o estresse gerado pelo medo de perder o emprego. Conforme a pesquisa, os jornalistas estão sempre envolvidos com uma espécie de “plano B”, o que pode causa muitos danos a saúde física e mental. Não é sem razão que a maioria dos entrevistados não ultrapasse a barreira dos 20 anos na profissão. “Eles fatalmente adoecem, não agüentam”.

O assédio moral que toda essa situação causa não é pouca coisa. Colocados diante da agilidade dos novos tempos, da necessidade da multifunção, de fazer milhares de cursos, de realizar tantas funções, as pessoas reprimem emoções demais, que acabam explodindo no corpo. “Se há uma profissão que abraçou mesmo essa idéia de multifunção foi o jornalismo. E aí, o colega vira adversário. A redação vive uma espécie de terrorismo às avessas”. Conforme Heloani, esta estratégia patronal de exigir que todos saibam um pouco de tudo nada mais é do que a proposta bem clara de que todos são absolutamente substituíveis. A partir daí o profissional vive um medo constante, se qualquer um pode fazer o que ele faz, ele pode ser demitido a qualquer momento. “Por isso os problemas de ordem cardiovascular são muito frequentes. Hoje, Acidentes Vasculares Cerebrais (AVCs) e o fenômeno da morte súbita começam a aparecer de forma assustadora, além da sistemática dependência química”.

O trabalho realizado por Roberto Heloani verificou que nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro 93% dos jornalistas já não tem carteira assinada ou contrato. Isso é outra fonte de estresse. Não bastasse a insegurança laboral, o trabalhador ainda é deixado sozinho em situações de risco nas investigações e até na questão judicial. Premidos por toda essa gama de dificuldades os jornalistas não tem tempo para a família, não conseguem ler, não se dedicam ao lazer, não fazem atividades físicas, não ficam com os filhos. Com este cenário, a doença é conseqüência natural.

O jornalista ganha muito mal, vive submetido a um ambiente competitivo ao extremo, diante de uma cotidiana falta de estrutura e ainda precisa se equilibrar na corda bamba das relações de poder dos veículos. No mais das vezes estes trabalhadores não tem vida pessoal e toda a sua interação social só se realiza no trabalho. Segundo Heloani, 80% dos profissionais pesquisados tem estresse e 24,4% estão na fase da exaustão, o que significa que de cada quatro jornalistas, um está prestes a ter de ser internado num hospital por conta da carga emocional e física causada pelo trabalho. Doenças como síndrome do pânico, angústia, depressão são recorrentes e há os que até pensam em suicídio para fugir desta tortura, situação mais comum entre os homens.

O resultado deste quadro aterrador, ao ser apresentado aos jornalistas, levou a uma conclusão óbvia. As saídas que os jornalistas encontram para enfrentar seus terrores já não podem mais ser individuais. Elas não dão conta, são insuficientes. Para Heloani, mesmo entre os jovens, que se acham indestrutíveis, já se pode notar uma mudança de comportamento na medida em que também vão adoecendo por conta das pressões. “As saídas coletivas são as únicas que podem ter alguma eficácia”, diz Roberto.

Quanto a isso, o presidente do Sindicato dos Jornalistas de Santa Catarina, Rubens Lunge, não tem dúvidas. “É só amparado pelo sindicato, em ações coletivas, que os jornalistas encontrarão forças para mudar esse quadro”. Rubens conta da emoção vivida por uma jornalista na cidade de Sombrio, no interior do estado, quando, depois de várias denúncias sobre sobrecarga de trabalho, ele apareceu para verificar. “Ela chorava e dizia, `não acredito que o sindicato veio´. Pois o sindicato foi e sempre irá, porque só juntos podemos mudar tudo isso”. Rubens anda lembra dos famosos pescoções, praticados por jornais de Santa Catarina, que levam os trabalhadores a se internarem nas empresas por quase dois dias, sem poder ver os filhos, submetidos a pressão, sem dormir. “Isso sem contar as fraudes, como a de alguns jornais que não tem qualquer empregado. Todos são transformados em sócios-cotistas. Assim, ou se matam de trabalhar, ou não recebem um tostão”.

A pesquisa de Roberto Heloani é um retrato vivo, chaga aberta, de uma realidade nacional. Os jornalistas espelhados aqui tem uma única opção: lutar de forma conjunta, unificados e dentro dos sindicatos. As derrotas vividas com a decisão do STF fragilizam e consomem ainda mais os profissionais, mas, a história humana está aí para mostrar que só a luta muda as coisas. Saídas individuais podem servir a um ou outro, mas quando uma categoria luta junto, ela vence! Assim é! 


Sindicato dos Jornalistas de Santa Catarina 
Apresentação de Roberto Heloani no site da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj)

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Em busca de uma banda mais larga

Matéria postada no NIC.Br, do Jornal O Norte

A falta de mais concorrentes é prejudicial para o desenvolvimento da oferta de internet banda larga em Natal, segundo a percepção de usuários e profissionais de informática. Enquanto em Natal a banda larga com velocidade de 1 megabit por segundo (Mbps) custa R$ 109,90, a mesma operadora cobra, em capitais como Recife, Fortaleza e João Pessoa, o dobro dessa velocidade por R$ 49,90, menos que a metade do preço cobrado aqui. Ou seja, o internauta natalense paga 120% mais caro por acessos mais lentos à rede mundial de computadores que os oferecidos em capitais vizinhas. Quem adquire a velocidade de 3 Mbps em Natal paga 133% a mais que em Recife. Enquanto o preço médio de 1 Kbps para o natalense é de R$ 0,11, em Recife (PE) o usuário paga apenas R$ 0,02, diferença que adquire peso no bolso do usuário na hora de aderir ao serviço e contratar uma operadora.

Usuários do serviço defendem que a vinda das grandes empresas que atuam no setor seria suficiente para derrubar preços e aumentar a disponibilidade de maiores velocidades no mercado. Gabriel Rodrigues, 17, estudante do curso técnico de Informática do IFRN, é um defensor ferrenho da necessidade da chegada de mais operadoras de banda larga a Natal. Ele defende que o aumento da oferta de banda larga proporcionará benefícios cada vez maiores, ampliando horizontes. “As pessoas verão que podem fazer mais na medida em que tiverem acesso a essas velocidades, ultrapassando os limites atuais”.

Gabriel é usuário do Oi Velox de 1 Mbps. Ele afirma que a falta de concorrência local faz com que a Oi não se preocupe em baixar seu preços, embora a operadora já dispusesse de infraestrutura para lançar melhores velocidades. “A Oi já recabeou, com fibra ótica, boa parte da cidade. Não tenho o que reclamar da qualidade e estabilidade da conexão, mas as velocidades ofertadas são baixíssimas e os preços são caros. O mercado de Natal não é pequeno, até maior que o de outras cidades como João Pessoa e Maceió que já tem velocidades maiores a preços mais justos”.

Atualmente favorecido por uma promoção que inclui banda larga, telefonia e uma franquia de minutos ilimitados, ele pagará R$ 59,90 pela internet até setembro. Depois disso, o valor subirá para R$ 109,90. Ele reclama também que a operadora irá impor um limite de uso da rede. “Na velocidade a partir de 1Mbps, quem utilizar mais de 40 gigabytes terá a sua velocidade reduzida para até 300 Kbps depois desse limite”. O estudante estima baixar em média 30 megas por mês, sem contar o envio de arquivos.Gabriel estuda as linguagens de programação e utiliza a Internet como meio de trabalho, varando as madrugadas na Internet, pesquisando, programando e trocando informações pela rede, além de baixar filmes e jogos.

Desde o ano passado ele se dedica também a uma outra atividade: pesquisar e discutir a chegada dessas operadoras a Natal. Ele está sempre atento às novidades no ramo de tecnologia e acompanha todos os passos de uma empresa específica: a GVT, que opera em velocidades a partir de 3 Mbps chegando a até 100 Mbps e oferecendo preços mais baixos que os do mercado, puxando para baixo os preços da concorrência. Gabriel é um dos fundadores de um movimento na Internet pedindo a chegada da GVT em Natal. Sua comunidade na rede social Orkut reúne mais de 600 usuários, também ativos na defesa da empresa.

Para o funcionário público Rômulo Sarttoreto, Natal tem demanda reprimida em relação à banda larga. “Os avanços sociais dos últimos anos fizeram com que o poder de compra dos natalenses aumentasse, e com ele também aumentou o interesse por serviços como internet banda larga e TV por assinatura. As empresas locais não dão conta da demanda e, aparentemente, não se interessam por competição. Se você entrar no site das duas empresas, irá reparar que o preço da velocidade de 1 Mbps é equivalente. Os preços são altos por falta de uma concorrência de verdade”. Ele também tem a expectativa de que a GVT chegue em Natal. “Ela é uma empresa que pratica competição agressiva, com preços justos para velocidades de padrão europeu”.

Infraestrutura encarece distribuição

Mas as divergências de preços são fruto também da ausência de uma maior infraestrutura, necessária para levar a internet das empresas que exploram o serviço até a ponta: o consumidor final. Essa deficiência, além da alta tributação do serviço, seria responsável por encarecer a venda de internet no atacado resultando em preços mais altos nas contas dos usuários natalenses.

Aldo Roberto Silva, gerente geral da Cabo Telecom, empresa pioneira na oferta de internet banda larga em Natal, explica que atualmente é impossível competir com os preços praticados pelas grandes operadoras, uma vez que elas dispõem de links próprios - a infraestrutura necessária para levar a internet até o consumidor – enquanto a Cabo precisa comprar o serviço de uma outra operadora. “Nunca o meu preço poderá ser menor que o de um concorrente que detém a matéria prima e a quem eu vou precisar recorrer para oferecer o serviço”.

A Cabo iniciou suas operações com banda larga em agosto de 2001, um ano antes da chegada da Oi Velox na cidade. As duas empresas continuam sendo o principal referencial de banda larga na cidade. Inicialmente a Cabo trabalhava junto a diversos provedores de internet, mas em 2008 a empresa adquiriu três provedores e passou a oferecer a prestação integral do serviço. Desde maio, a Cabo oferece as velocidades de 1 Mbps, 3 Mbps e 5 Mbps, ainda inéditas no mercado potiguar. Aldo Silva não revela números, mas afirma que a Cabo Telecom detém fatia significativa do mercado potiguar. Para ele, o diferencial da empresa é a qualidade do produto e da prestação de serviços, como o suporte técnico, que garante o atendimento das demandas dos usuários em até três horas.

Ele relata que hoje no Rio Grande do Norte apenas a Velox e a Embratel dispõe de links para comercialização, mas os preços para a venda no atacado são salgados. Para contornar o problema, a Cabo chegou ao ponto de ter que comprar os links em Fortaleza, a partir de um dos backbones da empresa espanhola Telefônica que ligam a Europa ao Brasil (o outro está em Recife) por meio de cabos marítimos. “Sai mais barato realizar essa operação e pagar uma empresa para trazer o link para cá do que comprar no atacado em Natal”.

Cláudio Alvarez, gerente comercial da Cabo, avalia que Natal se encontra ilhada em termos de infraestrutura de banda larga, visto que cidades vizinhas contam com uma oferta maior de backbones e links e que a cidade não recebeu a instalação de backbones intercontinentais. Apesar disso, a empresa está concretizando uma parceria com a Embratel para ampliar a sua capacidade de operação, o que deverá baratear os preços para o consumidor dentro de dois meses.

Combos

Aldo Silva defende que os preços baixos oferecidos por grandes operadoras são discutíveis. Segundo ele, em diversas situações, a oferta de preços mais baixos está condicionada à adesão de pacotes, os chamados combos, onde o cliente é levado a assinar outros produtos dessas operadoras como serviços de telefonia fixa, móvel ou de televisão.

Na última terça-feira, 27 de julho, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) determinou à diversas operadores (incluindo Oi e GVT) a interrupção desse tipo de procedimento.

“Eles conseguem praticar preços menores porque diminuem os custos da operação ao fazer um pacote único. Mas a agência reguladora está atenta a essa prática porque seria uma forma de venda casada, o que é proibido pelo Código de Defesa do Consumidor. A Anatel quer que o preço individual seja o mesmo do pacote, mas essas operadoras não teriam condições para isso por causa dos custos”, afirma Silva.

A medida preocupa também quem espera pela prática de preços menores em Natal. “Essa exigência pode fazer com que os preços dessas operadores disparem”, afirma o estudante Gabriel Ramalho.

Aumento da renda possibilita a entrada de mais usuários

Falando sobre o crescimento do mercado de banda larga, o gerente da Cabo Telecom, Aldo Silva, afirma que o incremento da renda e sua melhor distribuição possibilitou que as pessoas tivessem acesso e capacidade de compra de equipamentos como computadores e notebooks, resultando numa maior produção e também numa redução de preços desses produtos. O passo seguinte foi um maior acesso da população à internet, com migração da internet discada para o acesso em banda larga.

Uma pesquisa do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br) mostra que em 2009, 48% dos acessos individuais aconteceram em residências, enquanto outros 45% ocorrem em lan houses. O resultado reverteu a tendência apresentada até 2007, quando o acesso em lan houses superava o residencial.

O gerente da Cabo ressalta que esse crescimento não passou despercebido pelo governo federal, que lançou em maio o Plano Nacional de Banda Larga (PNBL) numa tentativa de incrementar o acesso das classes C e D à internet. O projeto quer alcançar 40 milhões de domicílios até 2014 por meio da Telebrás com tarifas de R$ 35 para o plano comum, com velocidade entre 512 e 784 Kbps. Um pacote subsidiado também será ofertado. Por R$ 15, o usuário terá velocidade de até 512 kbps, com limitação de downloads.

De acordo com Silva, o processo de democratização do acesso à internet passa pela necessidade de uma intervenção maior do governo para estabelecer preços justos e garantias aos consumidores, viabilizando a oferta por pequenas empresas e longe dos grandes centros. A diminuição dos tributos seria outro ponto relevante.

Dados do governo federal mostram que atualmente o brasileiro paga em média R$ 50 pela banda larga com velocidade de 256 Nos Estados Unidos, banda larga é aquela superior a 4 Mbps.