terça-feira, 4 de setembro de 2012

FinSpy: Dissidentes são reprimidos por meio de software criado para combater crime

NICOLE PERLROTH
DO "NEW YORK TIMES", EM SAN FRANCISCO


Morgan Marquis-Boire é engenheiro do Google e Bill Marczak está fazendo doutorado em ciências da computação. Mas neste verão americano os dois vêm trabalhando extra-oficialmente como detetives, rastreando por cinco continentes uma ferramenta de vigilância originária do Bahrein.

O que eles descobriram foi o uso amplo de um sofisticado software de espionagem por governos com históricos questionáveis no quesito dos direitos humanos. Embora o software supostamente seja vendido para uso apenas em investigações criminais, os dois investigadores encontraram evidências de que está sendo usado contra dissidentes políticos.

O software parece algo saído de um filme de espionagem: é capaz de captar imagens de telas de computador, gravar bate-papos no Skype, ligar câmeras e microfones e registrar toques em teclados. Marquis-Boire e Marczak disseram ter encontrado versões do spyware customizados para uso em todos os principais telefones celulares.

Mas o que tornava o software especialmente sofisticado era o grau em que ele evita ser detectado. Seus criadores o desenharam especificamente para evitar ser flagrado por softwares antivírus fabricados pela Kaspersky Lab, Symantec, F-Secure e outras.
O software foi identificado como FinSpy, uma das ferramentas de spyware mais difíceis de flagrar que é vendida no mercado crescente de tecnologias prontas de vigilância de computadores, tecnologias essas que possibilitam que governos realizem sofisticadas operações de monitoramento por plug-in. As investigações já identificaram o software em servidores em mais de uma dúzia de países, entre eles Turcomenistão, Brunei e Bahrein, embora nenhum governo reconheça que o emprega para finalidades de vigilância.

O mercado para esse tipo de tecnologia passou de "nada dez anos atrás" para US$5 bilhões por ano hoje, segundo Jerry Lucas, presidente da TeleStrategies, a empresa responsável pela ISS World, feira anual de espionagem em que agentes de organismos policiais e de segurança examinam os spywares de computador mais recentes.

O FinSpy é produzido pelo Gamma Group, uma empresa britânica que afirma vender softwares de monitoramento a governos unicamente para uso em investigações criminais.
"Este é um equipamento de uso dual", falou Eva Galperin, da Electronic Frontier Foundation, um grupo de defesa das liberdades civis na internet. "Se você o vende a um país que respeita as leis, o país pode usá-lo para combater criminosos. Se o vender para um país em que o Estado de direito não é tão forte, será empregado para monitorar jornalistas e dissidentes."