A ideia parece sedutora para qualquer jovem que goste de cultura e novas
experiências: morar com outras pessoas da mesma idade e com as mesmas
afinidades numa casa grande onde tudo é compartilhado e feito de maneira
coletiva. Essa é a proposta das casas do Fora do Eixo, nas quais os
integrantes da rede vivem juntos em grupos de até 30 pessoas para
economizar nas despesas de aluguel, luz, água, telefone e internet.
O sonho alternativo, entretanto, virou pesadelo para alguns
ex-integrantes. Após abandonarem os locais, eles relataram proibições de
se relacionar com pessoas de fora das residências, uma divisão machista
de tarefas e até o uso de militantes para atrair sexualmente outros
indivíduos para a rede.
O UOL visitou a casa do Fora do Eixo em São Paulo na
última sexta-feira (16), dia especialmente difícil para as lideranças da
rede. Após duas semanas de um bombardeio de críticas às práticas do
coletivo, a revista "Carta Capital" publicou reportagem assinada por um
ex-parceiro do grupo. Na matéria, uma antiga moradora da casa de São
Paulo afirma que Pablo Capilé, cofundador do Fora do Eixo, utiliza a
expressão "catar e cooptar" para se referir à prática de um(a) militante
fingir interesse sexual para trazer ao coletivo perfis de interesse das
lideranças.
"As meninas do Fora do Eixo vão processar essas pessoas [que estão
fazendo as acusações]. Isso é de um machismo intolerável do meu ponto de
vista. A suposição do acontecimento disso, a acusação para as meninas
que estão dentro da rede, saca? É uma acusação muito grande. Você não
devia falar isso numa entrevista ou dar um depoimento sobre isso. Você
tinha que ir para o Ministério Público, para a polícia, denunciar para
os órgãos responsáveis. Eu vou defender que as mulheres do Fora do Eixo
processem todo mundo que está falando isso, porque isso não pode passar
barato, não pode ficar assim", defende-se Capilé, inquieto na poltrona
da sala de TV da Casa em São Paulo.
A reportagem foi recebida por Felipe Altenfelder, membro do
planejamento do coletivo. De touca preta e barba por fazer, Felipe
apresentou a redação da Mídia Ninja e do #PósTV nos fundos da casa,
próximo ao palco onde são recebidas bandas no evento Domingo na Casa. A
casa de São Paulo abriga cerca de 20 moradores, mas só metade estava no
local no momento da visita. "Tem muita gente fora hoje", disse Capilé.
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