quarta-feira, 28 de agosto de 2013

#Facebook: Programa que rouba dados bancários prospera no site de relacionamento

Zeus, um programa que rouba informações bancárias descoberto há mais de seis anos, continua ativo e fazendo vítimas no Facebook.
O software malicioso já infectou milhões de computadores em todo o mundo --a maioria nos EUA. Uma vez que o Zeus se instala em uma máquina, ele permanece dormente até que a vítima visite um site de banco. O Zeus então grava todos os dados inseridos, como números de contas e senhas, e depois drena todo o dinheiro disponível.

Em alguns casos, o programa pode até mesmo substituir o site de um banco com uma página falsa, a fim de obter mais informações, tais como um número de segurança social, que podem ser vendidos no mercado negro.
De acordo com pesquisadores da empresa de segurança Trend Micro, ataques utilizando o Zeus têm aumentado de forma constante desde quando ele foi descoberto, em 2007.
Eric Feinberg, fundador do Fake (Fans Against Kounterfeit Enterprise), grupo que age pela conscientização contra ameaças virtuais, notou um aumento de links infectados com o Zeus em páginas populares sobre a NFL (liga de futebol americano dos EUA) no Facebook.
O malware estava sendo disparado por computadores controlados pela organização criminosa Russian Business Network, que tem sido associada a atividades como distribuição de programas maliciosos, roubo de identidade e até pornografia infantil.
Feinberg disse que tentou alertar o Facebook para o problema. Um porta-voz do site lembrou que a rede escaneia sempre por links com programas maliciosos e oferece aos usuários uma ferramenta de varredura de ameaças.
Segundo Feinberg, a abordagem após o fato não é suficiente. "Se você realmente quer hackear alguém, o melhor lugar para começar é um falso perfil no Facebook. Tão simples e tão estúpido", disse.
"Eles não estão ouvindo. Precisamos dar mais atenção para isso", completou Feinberg.

Autor/Fonte:  Folha Tec

domingo, 18 de agosto de 2013

#ForadoEixo-SP: a vez do #UOL

A ideia parece sedutora para qualquer jovem que goste de cultura e novas experiências: morar com outras pessoas da mesma idade e com as mesmas afinidades numa casa grande onde tudo é compartilhado e feito de maneira coletiva. Essa é a proposta das casas do Fora do Eixo, nas quais os integrantes da rede vivem juntos em grupos de até 30 pessoas para economizar nas despesas de aluguel, luz, água, telefone e internet.

O sonho alternativo, entretanto, virou pesadelo para alguns ex-integrantes. Após abandonarem os locais, eles relataram proibições de se relacionar com pessoas de fora das residências, uma divisão machista de tarefas e até o uso de militantes para atrair sexualmente outros indivíduos para a rede.

O UOL visitou a casa do Fora do Eixo em São Paulo na última sexta-feira (16), dia especialmente difícil para as lideranças da rede. Após duas semanas de um bombardeio de críticas às práticas do coletivo, a revista "Carta Capital" publicou reportagem assinada por um ex-parceiro do grupo. Na matéria, uma antiga moradora da casa de São Paulo afirma que Pablo Capilé, cofundador do Fora do Eixo, utiliza a expressão "catar e cooptar" para se referir à prática de um(a) militante fingir interesse sexual para trazer ao coletivo perfis de interesse das lideranças.




"As meninas do Fora do Eixo vão processar essas pessoas [que estão fazendo as acusações]. Isso é de um machismo intolerável do meu ponto de vista. A suposição do acontecimento disso, a acusação para as meninas que estão dentro da rede, saca? É uma acusação muito grande. Você não devia falar isso numa entrevista ou dar um depoimento sobre isso. Você tinha que ir para o Ministério Público, para a polícia, denunciar para os órgãos responsáveis. Eu vou defender que as mulheres do Fora do Eixo processem todo mundo que está falando isso, porque isso não pode passar barato, não pode ficar assim", defende-se Capilé, inquieto na poltrona da sala de TV da Casa em São Paulo.

A reportagem foi recebida por Felipe Altenfelder, membro do planejamento do coletivo. De touca preta e barba por fazer, Felipe apresentou a redação da Mídia Ninja e do #PósTV nos fundos da casa, próximo ao palco onde são recebidas bandas no evento Domingo na Casa. A casa de São Paulo abriga cerca de 20 moradores, mas só metade estava no local no momento da visita. "Tem muita gente fora hoje", disse Capilé.

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sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Fora do eixo. Depois de Veja, na Carta Capital

Na esteira dos protestos de junho, a Mídia Ninja emergiu como uma novidade instigante, um novo modelo de jornalismo. A concepção é simples e barata: por meio de celulares, os repórteres ninjas transmitem pela internet as imagens dos acontecimentos. Não há texto nem edição, apenas os vídeos em estado bruto em transmissões que facilmente duram seis horas. Na página do grupo no Facebook, há ainda fotos dos atos.



O sucesso repentino tornou-se, porém, uma fonte de dor de cabeça. Tudo começou com a presença de dois de seus expoentes no Roda Viva, programa de entrevistas da TV Cultura, em 5 de agosto. O jornalista paulistano Bruno Torturra, até então, era a única face do Mídia Ninja, acrônimo de “Narrativas Independentes, Jornalismo e Ação”. A novidade foi a presença de Pablo Capilé, criador do coletivo Fora do Eixo, guru de uma nova forma de ativismo. Ficou clara a ligação umbilical dos dois (Ninja e Fora do Eixo), antes praticamente desconhecida.

Por que essa relação virou alvo de tantas críticas? Em pequenos círculos, não é de hoje, corriam acusações contra o movimento. A exposição de Capilé amplificou as acusações nas redes sociais, espaço de excelência do grupo. Nos últimos dias, CartaCapital ouviu oito ex-integrantes e debruçou-se sobre a estrutura organizacional do coletivo. Metade deixou-se identificar. Os demais preferiram não ter seus nomes citados, por medo de represálias, mas confirmam as informações dos ex-colegas. Emergem da apuração um aglomerado controverso, acusações de estelionato, dominação psicológica e ameaças.

Nas casas, os integrantes dividem quartos, dinheiro, comida e roupas. E estão submetidos ao “processo” do Fora do Eixo. “Primeiro te isolam. Proíbem de sair na rua ´sem motivo´, impedem de encontrar amigos ou estabelecer qualquer contato com pessoas de fora. Depois, vem a apropriação de toda a sua produção. O cara sai sem grana, sem portfólio e distante dos amigos antigos. Sem apoio psicológico ou da família vai demorar a se restabelecer social e profissionalmente”, diz o fotógrafo Rafael Rolim, 29 anos, 3 deles na organização, em contato direto com Capilé. Rolim e os demais integrantes ouvidos pela revista endossam o depoimento da ex-integrante Laís Bellini, postado nas redes sociais.

A cineasta Beatriz Seigner foi a primeira a criticar o coletivo. Em texto postado no Facebook dois dias após o Roda Viva, diz, entre outros pontos, que o Fora do Eixo rompeu acordos e não lhe pagou por exibições de seu filme. Escreveu ainda sobre o volume de trabalho dos integrantes, que não teriam direito à vida pessoal ou diversão. Se disse ainda impressionada com a devoção à figura de Capilé. E comentou a repercussão: “Chegaram centenas de mensagens de coletivos e artistas do Brasil todo agradecendo o desmonte da rede. Estou aliviada."

No dia seguinte foi a vez de Laís Bellini. Segunda ex-integrante a se manifestar, seu longo relato é considerado por outros ex-membros o mais completo e fiel retrato do dia-a-dia do coletivo. Laís descreve uma estrutura radicalmente rígida e verticalizada, baseada em forte dominação psicológica. Para exemplificar, revela que foi afastada de um amigo antigo que vivia sob o mesmo teto – “Disseram: ´Laís, o Gabriel era seu amigo lá em Bauru. Aqui vocês não têm que ficar de conversa. Aqui dentro vocês não são amigos”; Laís revelou ainda o “choque-pesadelo”, prática que consiste em por uma pessoa na sala e “quebrá-la” moralmente, aos berros; a moça narrou ainda que a cúpula controla horários e saídas à rua e que o trabalho é extenuante e sem folga nem aos domingos. São vigiados até bate-papos no Facebook ou Gtalk. Laís está em meio a uma longa viagem pela América Latina, sem data pra voltar. A distância, diz, lhe deu coragem para falar. “Quando postei, tirei toneladas do ombro e comecei a chorar. Tomei coragem para dizer o que muitos têm medo mas que todos sabem que é verdade".

Um dos pontos levantados pelos entrevistados é o uso dos integrantes como uma espécie de isca sexual, o chamado Catar e Cooptar. “Há reuniões na cúpula para definir quem vai dar em cima de você e te fisgar pra dentro da rede”, afirma Laís. O designer Alejandro Vargas, que morou por 3 anos na Casa Fortaleza, dá mais detalhes: “Numa viagem rolou um papo que 'deveria ficar ali', sobre 'fazer a entrega para a rede'. Diziam: 'tem o cara ou menina mais feios, mas que trampam muito' e tem aqueles com 'mais chances de ter relações'. Tem que fazer a entrega para alimentar o estímulo de quem é menos provido de beleza, inclusive de fora da rede, para trazer para dentro”.

Rolim acrescenta: "'Catar e Cooptar' é o termo usado pelo Pablo, com todas as letras e constantemente. Eu mesmo fui proibido por ele de me aproximar de uma pessoa com quem tinha afinidade porque, 'para o processo', eu deveria estar solteiro, eu era uma boa 'isca'. Relações espontâneas entre dois integrantes, por amor, também não são bem vistas. Casais assim são pressionados a desmanchar, e é proibido ter relações com pessoas de fora da rede, a não ser por ordem superior. Capilé nega a prática. “As relações afetivas não são determinadas por regras do movimento, mas construídas por cada indivíduo, a partir dos desejos de cada um.”

O Fora do Eixo nasceu em 2005, e seu nome faz menção ao fato de a iniciativa ter começado em centros distantes de São Paulo e do Rio. Capilé é de Cuiabá. Do Mato Grosso, o coletivo expandiu-se para Uberlândia (MG) e Rio Branco (AC), e dali para outras cidades. A relação com os artistas funciona assim: uma banda iniciante entra na programação de eventos culturais do grupo e faz shows em algumas cidades. Não paga passagem, hospedagem e alimentação (fica nas casas Fora do Eixo). Em contrapartida, não recebe cachê. O dinheiro arrecadado com suas apresentações financia o movimento.

Capilé e seus apoiadores calculam 2000 integrantes, mas o Fora do Eixo se resume a sete casas (São Paulo, Belo Horizonte, Brasília, Fortaleza, Porto Alegre, Belém e Porto Velho), onde vivem em média dez ativistas, ou seja, cerca de 70 no total. Há ainda algumas casas de coletivos parceiros, como em Bauru e São Carlos. Quando se soma os agregados, na estimativa mais otimista, a organização tem hoje 200 participantes.

Oficialmente, o financiamento é baseado em shows e editais do governo ou de empresas estatais e privadas. Existe, no entanto, uma terceira fonte significativa: a apropriação de dinheiro e bens particulares de colaboradores. "Solicitaram um cartão de crédito que eu tinha em conjunto com meus pais para comprar passagens. Como a confiança era total, fui induzido a compartilhar a senha. Em um mês e meio gastaram 21 mil reais no meu cartão. Compraram um Macbook Pro novo para o Capilé, o que só soube quando a fatura chegou”, lamenta Rolim.

Vargas acrescenta: “É prática cotidiana a utilização dos cartões de quem mora nas casas. E como não tínhamos salário, logo a dívida do cartão entrou no SPC e na Serasa, e até hoje tenho o nome sujo”. Laís, por sua vez, saiu com uma dívida de 5 mil reais. O FdE nega a prática de apropriação, mas reconhece o uso de dinheiro e automóveis dos integrantes. “A destinação de seus bens para o uso do processo é um ato livre. Se você tem um carro e vem para uma casa, é natural que este carro seja usado. Se você tem um cartão de credito e quer disponibilizá-lo para ações da rede, a mesma coisa”. Na última segunda-feira 12 o coletivo lançou um "portal de transparência", mas não menciona o uso sistemático do dinheiro e bens dos integrantes.

O livro de cabeceira de Capilé é uma pista para entender como ele comanda o grupo. 48 Leis do Poder, lançado em 2000 no Brasil pela editora Rocco, é direcionado a empresários e traz dicas como “faça com que as pessoas venham até você: use uma isca, se necessário” e “faça com que os outros trabalhem para você, mas leve sempre o crédito”. Outra pista, esta fornecida por Laís, é a proibição de se assistir nas casas o vídeo Controle Mental – Como se Tornar um Líder de Culto.

Capilé criou um reino particular a partir de “simulacros” do mundo real. A contabilidade virou “Banco FdE”. Eventos com debates formam uma “Universidade FdE”. Viagens viram “colunas”. O lobby político é o “Partido da Cultura”. E a comunicação tornou-se “Mídia Ninja”.

Aos 34 anos, Capilé dedica-se intensamente ao movimento. Dorme pouco, alimenta-se mal e fuma muito. Viaja tanto que, não raro, cumpre agenda em três cidades em um mesmo dia. Está sempre desconfiado e conectado, e com baterias reservas. E é dono de uma retórica eloquente e messiânica.
Há um claro projeto político, e o coletivo não deixa de exercer sua influência. O Fora do Eixo teve peso na indicação, entre outros, do secretário municipal de cultura de São Paulo, Juca Ferreira, do subsecretário estadual de cultura do Rio Grande do Sul, Jéferson Assumção, do secretário estadual de educação do Acre, Daniel Zen, e de três dos secretários municipais de Porto Velho.

A organização não discrimina espectro ideológico. Sua ampliação em Cuiabá se deu sob as asas do PSDB, quando ganhou verbas públicas na gestão de Wilson Santos na prefeitura. Nas eleições do ano passado, apoiaram o petista Fernando Haddad à prefeitura de São Paulo e Mauro Nazif, atual prefeito de Porto Velho, do PSB. O senador mais próximo do grupo é Randolfe Rodrigues, do Psol. A respeito, o FdE disse não acreditar em política de governo, mas “em políticas de estado.”
A nova aposta é a Rede de Marina Silva. O coletivo esteve no lançamento da legenda em Brasília, e Torturra afirmou no Roda Viva ser marinista. Caso o partido consiga registro no Tribunal Superior Eleitoral, o plano de Capilé é lançar Torturra candidato a deputado federal pela Rede em 2014. "Ele é o nosso homem com rejeição zero", afirmou o cuiabano em mais de uma ocasião.

A relação do Fora do Eixo com parte da esquerda e dos movimentos sociais tem sido atribulada, desde antes da criação da Mídia Ninja. Alguns grupos fazem duras críticas aos ativistas por despolitizar manifestações, ao trocar causas concretas por slogans genéricos. Entre os grupos que tiveram embates com o Fora do Eixo estão Mães de Maio, o Movimento Passe Livre, o Desentorpecendo a Razão, os moradores da Favela do Moinho e o Cordão da Mentira.

Capilé costuma negar que o coletivo e a Mídia Ninja sejam a mesma coisa, mas quem esteve nas casas reafirma os laços entre os dois. “O projeto nasce e vive no Fora do Eixo, segue a mesma estrutura, tem as mesmas hierarquias e cargos. Mas tem outro nome, para evitar a rejeição que o FdE provoca. Mas quem dá o OK são as mesmas pessoas que dão OK em tudo no Fora do Eixo, e quem vai para rua cobrir são moradores das casas ou colaboradores do FdE”, esclarece Gabriel Zambon, coordenador do Ninja em Belo Horizonte até maio último.

Mesmo antes da recente leva de críticas, estava em curso um esforço para desvincular os dois. Capilé segue, contudo, confiante no poder de sedução de sua retórica e do mundo que criou. E vive a repetir: “para cada um que sai do Fora do Eixo tem dez querendo entrar".

Fonte/Autor: Carta Capital

terça-feira, 13 de agosto de 2013

As críticas ao modelo do #ForadoEixo

No blog do Luis Nassif Online

Sugerido por Leo V
Por Beatriz Seigner, via Facebook
Fora do Fora do Eixo

Conheci um representante da rede Fora do Eixo durante um trajeto de ônibus do Festival de Cinema de Gramado de 2011, onde eu havia sido convidada para exibir meu filme “Bollywood Dream – O Sonho Bollywoodiano” e ele havia sido convidado a participar de um debate sobre formas alternativas de distribuição de filmes no Brasil.

Casa Fora do Eixo Minas (Creative Commons)


Meu filme havia sido lançado naquele mesmo ano no circuito comercial de cinemas, em mais de 19 cidades brasileiras, distribuído pela Espaço Filmes, e o rapaz me contava de como o Fora do Eixo estava articulando pela internet os cerca de 1000 cineclubes do programa do governo Cine Mais Cultura, assim como outros cineclubes de pontos de cultura, escolas, universidades, coletivos e pontos de exibição alternativos, que estavam conectados à internet nas cidades mais longínquas do Brasil, para fazerem exibição simultânea de filmes com debate tanto presencialmente, quanto ao vivo, por skype. Eu achei a idéia o máximo. Me disponibilizei, a mim e ao meu filme para participar destas exibições, pois realmente acredito na necessidade de democratizar o acesso aos bens culturais no país, e sei como é angustiante, nestas cidades distantes, viver sem acesso à cultura alternativa e mais diversas artes.

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Foi então organizado o lançamento do meu filme nos cineclubes associados à rede Fora do Eixo durante o Grito Rock 2012, no qual eu também me disponibilizei a participar de uma tournée de debates no interior de São Paulo, na cidade do Rio de Janeiro, e por skype com outros cineclubes que aderissem à “campanha de exibição”, como eles chamam.

Com relação à remuneração eles me explicaram que aquele ainda era um projeto embrionário, sem recursos próprios, mas que podiam pagá-lo com “Cubo Card”, a moeda solidária deles, que poderia ser trocada por serviços de design, de construção de sites, entre outras coisas. Já adianto aqui que nunca vi nem sequer nenhum centavo deste cubo card, ou a plataforma com ‘menu de serviços’ onde esta moeda é trocada. 
E fiquei sabendo que algumas destas exibições com debate presencial no interior de SP seriam patrocinadas pelo SESC – pois o SESC pede a assinatura do artista que vai fazer a performance ou exibir seu filme nos seus contratos, independente do intermediário. E só por eles pedirem isso é que fiquei sabendo que algumas destas exibições tinham sim, patrocinador. Fui descobrir outros patrocinadores nos posters e banners do Grito Rock de cada cidade. Destes eu não recebi um centavo.

No entanto, foi realmente muito animador ver a quantidade de pessoas sedentas por cultura alternativa em todas as cidades de pequeno e médio porte pelas quais passei. Foi também incrível conversar com cinéfilos por skype de cidadezinhas do Acre, Manaus, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Bahia, Paraíba, Mato Grosso, Goiania, Santa Catarina, Distrito Federal, Rio de Janeiro, São Paulo, entre outras cidades. Pelo que eu via, tinha entre 50 a 150 pessoas em cada sessão. Eu perdi a conta de quantos debates e exibições foram feitas, mas o Fora do Eixo havia me prometido como contra-partida uma foto de cada exibição onde fosse visível o número de público destas, e uma tabela com as cidades e quantidades de exibições que foram feitas. Coisa que também nunca recebi.

De qualquer maneira, empolgada com esta quantidade de pessoas que não querem consumir cultura de massa, em todas estas cidades, entrei em contato com colegas cineastas e distribuidores para que também disponibilizassem seus filmes, pois via o potencial de fortalecimento destes pontos de exibição em todos estes lugares, de crescimento do número de cinéfilos, e de pessoas que têm o desejo de desfrutar coletivamente de um filme, ou de outra obra de arte, de discuti-la, pesquisá-la, e se possível debatê-la com seus realizadores. Estava realmente impressionada com a quantidade de pessoas em todas estas cidades sedentas por arte. Se eu tivesse nascido em uma delas, via que seguramente seria uma delas, e mal conseguia imaginar como deve ser insuportável viver em uma cidade onde não há teatro, cinema alternativo, e muitas vezes nem sequer bibliotecas.

A idéia seria então de fazer um projeto para captar recursos para viabilizar estas exibições. Pensamos em algo como cada cineclube ou ponto de exibição que exibisse um filme receberia 100 reais para organizar e divulgar a sessão, e cada cineasta receberia o mesmo valor pelos diretos de exibição de seu filme naquele lugar. E caso houvesse debate presencial receberia mais cerca de mil reais de cachê pelo debate, e por skype ao vivo cerca de 500 reais pelo debate de até 3 horas.

Pensando em rede, se mil cineclubes exibissem um filme, o cineasta poderia receber, no mínimo, 100 mil reais por estas exibições. Eu ainda acho que é um projeto que deve ser realizado. E que esta ligação entre os cineclubes deveria ser feita por uma plataforma pública online do governo, onde ficaria o armazenamento destes filmes para download com senha e crédito paypal para estes pontos de exibição (sejam eles cineclubes, escolas, universidades, pontos de cultura etc). 

Assim como também acho que os “Céus das Artes” que estão sendo construídos no país todo deveriam ter salas de cinema separadas dos teatros, com programação diária, constante, aumentando em 15% o parque exibidor brasileiro, e capacitando o governo de fazer políticas de exibição de filmes gratuitas ou com preços populares, em lugares onde simplesmente não há cinemas, muito menos, de arte. 

Mas isso já é outra história. Voltemos ao Fora do Eixo.

E quando foi que o projeto degringolou? ou quando foi que me assustei com o Fora do Eixo?
Meu primeiro susto foi quando perguntaram se podiam colocar a logomarca deles no meu filme – para ser uma ‘realização Fora do Eixo’, em seu catálogo. Eu disse que o filme havia sido feito sem nenhum recurso público e que a cota mínima para um patrocinador ter sua logomarca nele era de 50 mil reais. Eles desistiram.
O segundo susto veio justamente na exibição com debate em um SESC do interior de SP, quando recebi o contrato do SESC, e vi que o Fora do Eixo estava recebendo por aquela sessão, em meu nome, e não haviam me consultado sobre aquilo. Assinei o contrato minutos antes da exibição e cobrei do Fora do Eixo aquele valor descrito ali como sendo de meu cachê, coisa que eles me repassaram mais de 9 meses depois, porque os cobrei, publicamente.
O terceiro susto veio quando me levaram para jantar na casa da diretora de marketing da Vale do Rio Doce, no Rio de Janeiro, onde falavam dos números fabulosos (e sempre superfaturados) da quantidade de pessoas que estavam comparecendo às sessões dos filmes, aos festivais de música, e do poder do Fora do Eixo em articular todas aquelas pessoas em todas estas cidades. Falavam do público que compareciam a estas exibições e espetáculos como sendo filiados à eles. Ou como se eles tivessem qualquer poder sobre este público. 
Foi aí que conheci pela primeira vez o Pablo Capilé, fundador da marca/rede Fora do Eixo, um pouco antes deste jantar. Até então haviam me dito que a rede era descentralizada, e eu havia acreditado, mas imediatamente quando vi a reverência com que todos o escutam, o obedecem, não o contradizem ou criticam, percebi que ele é o líder daqueles jovens, e que ao redor dele orbitavam aqueles que eles chamam de “cúpula” ou “primeiro escalão” do FdE. 

O susto veio, não apenas por conta de perceber esta centralidade de liderança, mas porque o Pablo Capilé dizia que não deveria haver curadoria dos filmes a serem exibidos neste circuito de cineclubes, que se a Xuxa liberasse os filmes dela, eles seguramente fariam campanha para estes filmes serem consumidos pois dariam mais visibilidade ao Fora do Eixo, e trariam mais pessoas para ‘curtir’ as fotos e a rede deles – pessoas estas que ele contabilizaria, para seus patrocinadores tanto no âmbito público, quanto privado. “Olha só quantas pessoas fizemos sair de suas casas”. E que ele era contra pagar cachês aos artistas, pois se pagasse valorizaria a atividade dos mesmos e incentivaria a pessoa ‘lá na ponta’ da rede, como eles dizem, a serem artistas e não ‘DUTO’ como ele precisava. Eu perguntei o que ele queria dizer com “duto”, ele falou sem a menor cerimônia: “duto, os canos por onde passam o esgoto”. 

Eu fiquei chocada. Não apenas pela total falta de respeito por aqueles que dedicam a maior quantidades de horas de sua vida para o desenvolvimento da produção artística (e quando eu argumentava isso ele tirava sarro dizendo ‘todo mundo é artista’ ao que eu respondia ‘todo mundo é esportista também – mas quantos têm a vocação e prazer de ficar mais de 8 horas diárias treinando e se aprofundando em determinada forma de expressão? quantas pessoas que jogam uma pelada no fim de semana querem e têm o talento para serem jogadores profissionais?” “mas se pudesse escolher todo mundo seria artista” “não necessariamente, leia as biografias de todos os grandes compositores, escritores, cineastas, coreógrafos, músicos, dançarinos – quero ver quem gostaria de ter aquelas infâncias violentadas, viver na miséria econômicas, passar horas de dedicando-se a coisas consideradas inúteis por outros - vai ver se quem é artista, se pudesse escolher outra forma de vocação se não escolheria ter vontade de ser feliz sendo médico, advogado, empresário, cientista social.”). 

Enfim, o fato é que eu acreditava e continuo acreditando que se a pessoa na ponta da rede, seja no Acre ou onde quer que seja, se esta pessoa tiver vontade de passar a maior quantidade de tempo possível praticando qualquer forma de expressão artística, seja encarando páginas em branco, lapidando textos, lapidando filmes, treinando danças, coreografias, teatro, seja praticando um instrumento musical (e quem toca instrumentos musicais sabe a quantidade de horas de prática para se chegar à liberdade de domínio do instrumento e de seu próprio corpo, os tais 99% de suor para 1% de inspiração), quem quer que seja que encontre felicidade nestas horas e horas de prática cotidiana artística deve produzir tais obras e não ser DUTO de coisa alguma. 

Pois existem pessoas no mundo que não têm este prazer de produção artística, mas têm prazer em exibir, promover, e compartilhar estas obras. E tá tudo certo. Temos diversos exemplos de pessoas assim: vejam a paixão com que o Leon Cakof e a Renata de Almeida produziam e produzem a Mostra de São Paulo. O pessoal da Mostra de Tiradentes. E de tantas outras. Existe paixão pra tudo. E não, exibidores, programadores, curadores, professores, críticos de cinema ou de arte não são artistas frustrados – mas pessoas cuja a paixão deles é esta: analisar, comentar, debater, ensinar, deflagrar e ampliar o pensamento e a reflexão sobre as diversos âmbitos de atuação humanos. Que bom que tem gente com estas paixões tão complementares!

E o meu choque ao discutir com o Pablo Capilé foi ver que ele não tem paixão alguma pela produção cultural ou artística, que ele diz que ver filmes é “perda de tempo”, que livros, mesmo os clássicos, (que continuam sendo lidos e necessários há séculos), são “tecnologias ultrapassadas”, e que ele simplesmente não cultiva nada daquilo que ele quer representar. Nem ele nem os outros moradores das casas Fora do Eixo (já explico melhor sobre isso). 

Ou seja, ele quer fazer shows, exibir filmes, peças de teatro, dança, simplesmente porque estas ações culturais/artísticas juntam muita gente em qualquer lugar, que vão sair nas fotos que eles tiram e mostram aos seus patrocinadores dizendo que mobilizam “tantas mil pessoas” junto ao poder público e privado, e que por tanto, querem mais dinheiro, ou privilégios políticos.

Vejam que esperto: se Pablo Capilé dizer que vai falar num palanque, não iria aparecer nem meia dúzia de pessoas para ouvi-lo, mas se disserem que o Criolo vai dar um show, aparecem milhares. Ou seja, quem mobiliza é o Criolo, e não ele. Mas depois ele tira as fotos do show do Criolo, e vai na Secretaria da Cultura dizendo que foi ele e sua rede que mobilizou aquelas pessoas. E assim, consequentemente, com todos os artistas que fazem participação em qualquer evento ligado à rede FdE. Acredito que, como eu, a maioria destes artistas não saibam o quanto Pablo Capilé capitaliza em cima deles, e de seus públicos.
Mesmo porque ele diz que as planilhas do orçamento do Fora do Eixo são transparentes e abertas na internet, sendo isso outra grande mentira lavada – tais planilhas não encontram-se na internet, nem sequer os próprios moradores das casas Fora do Eixo as viram, ou sabem onde estão. Em recente entrevista no Roda Viva, Capilé disse que arrecadam entre 3 e 5 milhões de reais por ano. 

Quanto disso é redistribuído para os artistas que se apresentam na rede? 
O último dado que tive é que o Criolo recebia cerca de 20 mil reais para um show com eles, enquanto outra banda desconhecida não recebe nem 250 reais, na casa FdE São Paulo. 
Mas seria extremamente importante que os patrocinadores destes milhões exigissem o contrato assinado com cada um destes artistas, baseado pelo menos no mínimo sindical de cada uma das áreas, para ter certeza que tais recursos estão sendo repassados, como faz o SESC. 
Depois deste choque com o discurso do Pablo Capilé, ainda acompanhei a dinâmica da rede por mais alguns meses (foi cerca de 1 ano que tive contato constante com eles), pois queria ver se este ódio que ele carrega contra as artes e os artistas era algo particular dele, ou se estendia à toda a rede. Para a minha surpresa, me deparei com algo ainda mais assustador: as pessoas que moram e trabalham nas casas do Fora do Eixo simplesmente não têm tempo para desfrutar os filmes, peças de teatro, dança, livros, shows, pois estão 24 horas por dia, 7 dias por semana, trabalhando na campanha de marketing das ações do FdE no facebook, twitter e demais redes sociais. 

E como elas vivem e trabalham coletivamente no mesmo espaço, gera-se um frenesi coletivo por produtividade, que, aliado ao fato de todos ali não terem horário de trabalho definido, acreditarem no mantra ‘trabalho é vida’, e não receberem salário, e portanto se sentirem constantemente devedores ao caixa coletivo, da verba que vem da produção de ações que acontecem “na ponta”, em outros coletivos aliados à rede, faz com que simplesmente, na casa Fora do Eixo em São Paulo, não se encontre nenhum indivíduo lendo um livro, vendo uma peça, assistindo a um filme, fazendo qualquer curso, fora da rede. Quem já cruzou com eles em festivais nos quais eles entraram como parceiros sabem do que estou falando: eles não entram para assistir a nenhum filme, nem assistem/participam de nenhum debate que não seja o deles. O que faz com que, depois de um tempo, eles não consigam falar de outra coisa que não sejam eles mesmos. 
Sim, soa como seita religiosa.

Eu comecei a questionar esta prática: como vocês querem promover a cultura, se não a cultivam? Ao que me responderam “enquanto o povo brasileiro todo não puder assistir a um filme no cinema, nós também não vamos”. Eu perguntei se eles sabiam que havia mostras gratuitas de filmes, peças de teatro, dança, bibliotecas públicas, universidades públicas onde pode-se assistir a qualquer aula/curso – ao que me responderam que eles não têm tempo para perder com estas coisas.

Pode parecer algo muito minimalista, mas eu acho chocante eles se denominarem o “movimento social da cultura”, e não cultivar nem a produção nem o desfrute das atividades artísticas da cidade onde estão, considerando-se mártires por isso, orgulhando-se de serem chamados de “precariado cognitivo” (sem perceber o tamanho desta ofensa – podemos nos conformar em viver no precariado material, mas cultivar e querer espalhar o precariado de pensamentos, de massa crítica, de sensibilidade cognitiva, é algo muito grave para o desenvolvimento de seres humanos, e consequentemente da humanidade). 

Concomitantemente a isso, reparei que aquela massa de pessoas que trabalham 24 horas por dia naquelas campanhas de publicidade das ações da rede FdE, não assinam nenhuma de suas criações: sejam textos, fotos, vídeos, pôsters, sites, ações, produções. Pois assinar aquilo que se diz, aquilo que se mostra, que se faz, ou que se cria, é considerado “egóico” para eles. Toda a produção que fazem é assinada simplesmente com a logomarca do Fora do Eixo, o que faz com que não saibamos quem são aquele exercito de criadores, mas sabemos que estão sob o teto e comando de Pablo Capilé, o fundador da marca.
E que não, a marca do fora do Eixo não está ligada a um CNPJ, nem de ONG, nem de Associação, nem de Cooperativa, nem de nada – pois se estivesse, ele seguramente já estaria sendo processado por trabalho escravo e estelionato de suas criações, por dezenas de pessoas que passaram um período de suas vidas nas casas Fora do Eixo, e saem das mesmas, ao se deparar com estas mesmas questões que exponho aqui, e outras ainda mais obscuras e complexas. 

Me explico melhor: existem muitos dissidentes que se aproximam da rede pois vêem nela a possibilidade de viver da criação e circulação artística, de modificar suas cidades e fortalecer o impacto social da arte na população das mesmas, que depois de um tempo trabalhando para eles percebem, tal qual eu percebi, as incongruências do movimento Fora do Eixo. Que aquilo que falam, ou divulgam, não é aquilo que praticam. É a pura cultura da publicidade vazia enraizada nos hábitos diários daquelas pessoas.

E além disso, o que talvez seja mais grave: quem mora nas casas Fora do Eixo, abdicam de salários por meses e anos, e portanto não têm um centavo ou fundo de garantia para sair da rede. Também não adquirem portfólio de produção, uma vez que não assinaram nada do que fizeram lá dentro – nem fotos, nem cartazes, nem sites, nem textos, nem vídeos. E, portanto, acabam se submetendo àquela situação de escravidão (pós)moderna, simplesmente pois não vêem como sobreviver da produção e circulação artística, fora da rede. Muitas destas pessoas são incentivadas pelo próprio Pablo Capilé a abandonar suas faculdades para se dedicarem integralmente ao Fora do Eixo. Quanto menos autonomia intelectual e financeira estas pessoas tiverem, melhor para ele.

E quando algumas destas pessoas conseguem sair, pois têm meios financeiros independentes da rede FdE para isso, ficam com medo de retaliação, pois vêem o poder de intermediação que o Capilé conseguiu junto ao Estado e aos patrocinadores de cultura no país, e temem serem “queimados” com estes. Ou mesmo sofrer agressões físicas. Já três pessoas me contaram ouvir de um dos membros do FdE, ao se desligarem da rede, ameaças tais quais “você está falando de mais, se estivéssemos na década de 70 ou na faixa de gaza você já estaria morto/a.” Como alguns me contaram, “eles funcionam como uma seita religiosa-política, tem gente ali capaz de tudo” na tal ânsia de disputa por cada vez mais hegemonia de pensamento, por popularidade e poder político, capital simbólico e material, de adeptos. Por isso se calam.

Fiquei sabendo de uma menina que produziu o Grito Rock 2012 em Braga, em Portugal, no qual exibiram meu filme. Ela me contou que estava de intercâmbio da universidade lá, e uma amiga dela que havia sido “abduzida pelo Fora do Eixo” entrou em contato perguntando se ela e um amigo não queriam exibir o filme em Braga, produzir o show de uma banda na universidade, fazer a divulgação destas ações nas redes sociais. Ela achou boa a idéia e qual não foi sua surpresa quando viu que em todos os materiais de divulgação do evento que lhe enviaram estava escrito “realização Fora do Eixo”. “Eu nunca fui do Fora do Eixo, não tenho nada a ver com eles, como assim meu nome não saiu em nada? Não vou poder usar estas produções no meu currículo? E pior, eles agora falam que o Fora do Eixo está até em Portugal, e em sei lá quantos países. Isso é simplesmente mentira. Eu não sou, nem nunca fui do Fora do Eixo.”

O que leva a outro ponto grave das falácias do Fora do Eixo: sua falta de precisão numérica. Pablo Capilé, quando vai intermediar recursos junto ao poder público ou privado, para capitalizar a rede FdE, fala números completamente aleatórios “somos mais de 2 mil pessoas em mais de 200 cidades na America Latina”. Cadê a assinatura destas pessoas dizendo que são realmente filiadas à rede? Qualquer associação, cooperativa, partido político, fundação, ONG, ou movimento social tem estes dados. Reais, e não imaginários.

Quando visitei algumas das casas Fora do Eixo, estas pessoas morando e trabalhando lá não chegavam a 10% daquilo que ele diz a rede conter. E estas pessoas são treinadas com a estratégia de marketing da rede, de “englobar” no facebook e twitter alguém que eles consideram estrategicamente importante para o Fora do Eixo, seja um vereador, um intelectual, um artista, um secretário da cultura, e replicam simultaneamente as fotos e textos dos eventos do qual produzem, divulgam, ou simplesmente se aproximam (já vou falar dos outros movimentos sociais que expulsam o Fora do Eixo de suas manifestações – pois eles tiram fotos de si no meio destas ações dos outros e depois vão ao poder público dizer que as representam), ao redor daquelas pessoas estratégicas, política e economicamente para eles, que as adicionaram ao mesmo tempo, criando uma realidade virtual paralela que eles manipulam ao redor desta pessoa. Pois, se esta pessoa ‘englobada’ apertar ‘ocultar’ nas cerca de150 pessoas que trabalham nas casas Fora do Eixo, verá que muito raramente estas informações chegam por outras vias. Ou seja, eles simulam um impacto midiático muito maior de suas ações, apara aqueles que lhes interessam, do que o impacto real das mesmas nas populações e localizações onde aconteceram.
E com isso vão construindo esta realidade falsa, paralela. Controlada por eles, sob liderança do Pablo Capilé.
Dos movimentos sociais que começaram a expulsar os Fora do Eixo de suas manifestações e ações, pois estes, como os melhores mandrakes, ao tentar dominar a comunicação destas, iam depois ao poder público dizer representá-las, estão o movimento do Hip Hop em São Paulo, as Mãe de Maio (que encabeçam o movimento pela desmilitarização da PM aqui), o Cordão da Mentira (que une diversos coletivos e movimentos sociais para a passeata de 1º de Abril, dia do golpe Militar no Brasil, escrachando os lugares e instituições que contribuíram para o mesmo), a Associação de Moradores da Favela do Moinho, o coletivo Zagaia, o Passa-Palavra, o Ocupa Mídia, O Ocupa Sampa, o Ocupa Rio, Ocupa Funarte, entre outros. Até membros do Movimento Passe Livre tem discutido publicamente o assunto dizendo que o Fora do Eixo não os representam, e não podem falar em seu nome.

Sobre a transmissão de protestos e ocupações, são milhares de pessoas em diversos países que transmitem as manifestações no mundo todo, em tempo real, e acredito que os inventores que fizeram os primeiros smartphones conectando vídeo com internet, são realmente tão importantes para a comunicação na atualidade quanto os inventores do telégrafo foram em outra época. 
Já o Fora do Eixo, agora denominados de Mídia Ninja, (antes era Mídia Fora do Eixo, mas como são muito expulsos de manifestações resolveram mudar de nome) utilizar os vídeos feitos por centenas de pessoas não ligadas ao Fora do Eixo, editá-los, subí-los no canal sob seu selo, e querer capitalizar em cima disso – sem repassar os recursos para as pessoas que realmente filmaram estes vídeos/fizeram estas fotos e textos – inclusive do PM infiltrado mudando de roupa e atirando o molotov - eu já acho bastante discutível eticamente.

Sobre a questão do anonimato nos textos e fotos, acredito que esta prática acaba fazendo com que eles façam exatamente aquilo que criticam na grande mídia: espalham boatos anônimos, sem o menor comprometimento com a verdade, com a pesquisa, com a acuidade dos dados e fatos. 
Mas enfim, acho que a discussão é muito mais profunda do que a Midía Ninja em si, apesar deles também se beneficiarem do trabalho escravo daqueles que vivem nas casas Fora do Eixo.
Acredito com este relato estar dando minha contribuição pública à discussão de o que é o Fora do Eixo, como se financiam e sustentam a rede, quais seus lados bons e seus lados perversos, onde é que enganam as pessoas, dizendo-se transparentes, impunemente.

Contribuição esta que acredito ser meu dever público, uma vez que, ao me encantar com a rede, e haver vislumbrado a possibilidade de interagir com cinéfilos do rincões mais distantes do país, que não têm acesso aos bens culturais produzidos ou circulados por aqui, incentivei outros colegas cineastas a fazerem o mesmo. Já conversei pessoalmente com todos aqueles que pude, explicando tudo aquilo que exponho aqui também. 

Dos cineastas que soube que também liberaram seus filmes para serem exibidos pela rede, nenhum recebeu qualquer feedback destas exibições, sejam em fotos com o número de pessoas no públicos, seja com a tabela de cidades em que passaram, seja de eventuais patrocínio que os exibidores receberam. E como talvez tenha alguém mais com quem eu não tenha conseguido falar pessoalmente, fica aqui registrado o testemunho público sobre minha experiência com a rede Fora do Eixo, para que outras pessoas possam tomar a decisão de forma mais consciente caso queiram ou não colaborar com ela.

Espero que os patrocinadores da rede tomem também conhecimento de todas estas falácias, e cobrem do Fora do Eixo o número exato de participantes, com assinatura dos mesmos, os contratos e recibo de repasse das verbas que recebem aos autores das obras e espetáculos que eles dizem promover. E que jornalistas que investigam o trabalho escravo moderno se debrucem também sobre estas casas: pois acredito que as pessoas que estão lá e querem sair precisam de condições financeiras e psicológicas para isso. 
Espero também que mais pessoas tomem coragem para publicar seus relatos (e sei que tem muita gente que poderia fazer o mesmo, mas que tem medo pelos motivos que expliquei a cima), e assim teremos uma polifonia importante para quebrar a máscara de consenso ao redor do Fora do Eixo.

E que, mesmo vivendo em plena era da cultura da publicidade, exijamos “mais integridade, por favor”, entre aquilo que dizem e aquilo que fazem aqueles que querem trabalhar, circular, exibir, criar, representar, pensar ou lutar pelo direito fundamental do Homem de produção e desfrute da diversidade artística e cultural de todas as épocas, em nosso tempo.

Fonte: Luis Nassif Online

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Importação de engenheiros preocupa categoria após #MaisMédicos

Matéria publicada no portal Exame Info dia que, ainda no olho do furacão com a polêmica criada pela importação de profissionais por meio do Programa Mais Médicos, a presidente Dilma Rousseff já estuda a possibilidade de comprar briga com outra categoria: a dos engenheiros. 
Importantes ministros estariam tentando convencer a presidente de que trazer de fora profissionais especializados ajudaria a solucionar a dificuldade dos municípios para a realização de projetos, que são necessários para o repasse de verbas federais.

Nesta segunda-feira, a Federação Nacional dos Engenheiros (FNE) manifestou sua posição contrária à proposta. “A medida, como solução à falta de quadros técnicos nas prefeituras brasileiras, constitui um equívoco e não se justifica”, afirmou em nota o presidente da entidade, Murilo Celso de Campos Pinheiro.
Já o Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea), diz não “fazer objeção à entrega de registro aos profissionais estrangeiros”, mas faz ressalvas em relação à medida. “Se houver falta de profissional, nada mais justo do que o país buscar estrangeiros. Mas se não há falta, primeiro nós vamos garantir o emprego para os profissionais do Brasil”, afirma o presidente do órgão, José Tadeu da Silva.
Embora a categoria admita que a demanda por engenheiros em certas áreas seja maior do que a oferta, não é consenso que uma política de importação de profissionais seria a solução para o problema.
De acordo com o professor Vanderli de Oliveira, diretor da Associação Brasileira de Educação em Engenharia (Abenge), hoje a profissão no Brasil “não deve a ninguém”. “Nossa realidade é de exportação de profissionais qualificados. Não faz sentido importar. Uma política de retorno desses nossos engenheiros seria muito mais eficiente”, afirma.
Segundo Oliveira, para melhorar a situação no país seria necessária uma política mais ampla de investimento. “O governo teria que promover a fixação dos bons profissionais, investir na capacitação dos já formados e também nas estruturas das escolas”, diz.
Para o diretor da Abenge, a falta de incentivos também é um problema. “Se o setor público está pagando tão pouco que não atrai nossos próprios engenheiros, não adianta trazer gente de fora. Isso só atrairia profissionais de má qualidade e seria um atraso para o país”, completa.
De acordo com dados do Confea, hoje o país possui 1.051.945 engenheiros com registro profissional ativo. Destes, 1.019 foram concedidos a profissionais formados no exterior e que tenham revalidado o diploma no Brasil.
Auto/Fonte:Exame Info

domingo, 11 de agosto de 2013

#PabloCapilé, o líder por trás da #MídiaNinja segunda a @Veja

Ele vive entre dois mundos, com um pé fora do eixo e o outro dentro do governo.


Pablo Santiago Capilé Mendes, de 34 anos, vive em dois mundos. No circuito Fora do Eixo (FdE), nome da comunidade que fundou e da qual é líder com status de guru, ele diz ser politicamente apartidário e defende a independência financeira do grupo a ponto de, dentro dele, fazer circular um dinheiro de mentirinha, o card. 

A “moeda” serve para “remunerar” o trabalho de cerca de centenas de jovens que moram nas 25 casas do FdE, espécie de repúblicas de muros grafitados onde tudo é de todo mundo -- incluindo as roupas, guardadas em um armário único e à disposição do primeiro que chegar.
Já no outro mundo em que vive, Capilé é um “companheiro”, como se referiu a ele o presidente do PT, Rui Falcão, e o dinheiro com que lida não só é de verdade como vem, em boa parte, dos cofres públicos.
O mais recente empreendimento do Fora do Eixo, por exemplo -- uma casa inaugurada em Brasília no mês de junho para hospedar convidados estrangeiros e a cúpula da organização --, foi montado com dinheiro da Fundação Banco do Brasil. A título de convênio, a fundação repassou à turma de Capilé 204.000 reais destinados, segundo sua assessoria, a “estruturação do local, salários de educadores e implementação de uma estação digital”. O Fora do Eixo tem outras duas dezenas de casas espalhadas pelo Brasil em lugares como Fortaleza, Porto Alegre e Belém do Pará. Não tão chiques nem tão bem aparelhadas quanto a de Brasília, elas abrigam, no mesmo esquema da casa de São Paulo, jovens que trabalham voluntariamente para a organização.
Parte deles atua no Mídia Ninja, grupo que ficou conhecido por fotografar, filmar e transmitir pela internet em tempo real os protestos de rua de junho. Outra parcela, bem maior, trabalha na organização e na divulgação de atividades culturais, como os festivais de música -- o negócio mais forte do Fora do Eixo, e o caminho mais curto para o dinheiro público. Para chegar até ele, Capilé conhece bem os atalhos.
Autor/Fonte: Veja

sábado, 10 de agosto de 2013

#MídiaNinja:"Não temos essa política do calote", diz Pablo Capilé, ao UOL, sobre Fora do Eixo

    05.ago.2013 - O produtor cultural Pablo Capilé, fundador do coletivo Fora do Eixo, no programa "Roda Viva" da TV Cultura
Na semana em que o Fora do Eixo foi à berlinda nas redes sociais, o produtor cultural Pablo Capilé afirmou ao UOL, por telefone, que a rede de coletivos não é e nunca foi contra o cachê de artistas. Fundador do projeto que promove intercâmbio em produções culturais pelo Brasil, Capilé e seus parceiros receberam uma série de críticas e relatos de artistas e produtores questionando o modus operandi do grupo.

A cineasta Beatriz Seigner, realizadora do filme "Bollywood Dream - O Sonho Hollywoodiano", está entre esses ex-colaboradores. Em nota, ela acusou o Fora do Eixo de ter omitido patrocínio para a exibição de seu longa. Capilé reconhece que esse e outros casos foram erros no processo. "Por um momento alguém pode ter deixado de receber. Isso não pode ser encarado como uma política nossa. Não temos essa política do calote. É um erro que precisa ser corrigido", disse.
A moeda social do grupo (chamada de cubo card), a participação em editais, os relatos de ex-moradores das casas Fora do Eixo e as acusações de ser um chefe intransigente também entraram na conversa. "O que seria meu salário está lá dentro [do sistema da casa]. A principal fonte [de recursos] é nosso próprio investimento no processo".


UOL Entretenimento - Os coletivos que fazem parte da rede têm autonomia para captar recursos e participar de editais, ou é o Fora do Eixo que coordena isso? A rede também funciona como um caixa único?
Pablo Capilé - Cada coletivo tem sua própria autonomia e caixa própria. O Fora do Eixo só ajuda os coletivos a escrever projetos. Por exemplo, se o coletivo de Manaus está desenvolvendo algo, o Fora do Eixo ajuda o pessoal do Amapá a entender como funciona aquele projeto para fazer igual também. Mas não fazemos gestão de recursos da ponta, nada. O recurso é direto do coletivo.

O que é o Fora do Eixo?

O Fora do Eixo é uma rede de coletivos da área cultural, com a proposta de fazer um intercâmbio solidário de produção e conhecimento na produção de eventos. O grupo surgiu do Espaço Cubo, idealizado pelo produtor cultural e publicitário Pablo Capilé, em Cuiabá (MT), que passou a articular coletivos e eventos fora do eixo Rio-São Paulo, como festivais de música, cinema e teatro, entre eles o Festival Calango e Grito Rock. Recentemente, ganhou notoriedade com o surgimento da Mídia Ninja, que passou a cobrir ao vivo, via streaming, as manifestações em todo o País em 2013.

Há muitas dúvidas sobre o pagamento de serviços, bandas, técnicos, produtores e artistas. Quem participa de um evento organizado ou apoiado pelo Fora do Eixo não recebe cachê? Mesmo quando há recursos através de editais, por exemplo, os valores são repassados para os colaboradores?
Você tem milhares de artistas que se apresentam no Brasil. Se tem o show que vai acontecer no Amapá, as passagens são supercaras e, às vezes, o coletivo de lá não tem condição de pagar passagem e cachê. Então, se o cara topar, ele vai, toca e forma público. Só que a gente defende a remuneração dos artistas. Não existe uma política do Fora do Eixo contra o cachê. Quando falam 'ah, não receberam o cachê'... claro que tem exceções nesse processo, mas a regra é que o que é combinado, acontece. Isso não é só Fora do Eixo, é na produção independente no Brasil inteiro.

Isso depende se o festival tem recursos?
Tem a ver. Você tem R$ 50 mil para fazer [um festival] no Amapá, mas quatro passagens já dão R$ 15 mil. Aí você quer fazer um festival com 20 bandas. Então você conversa e nem sempre vai dar para todas as bandas receberem. Vai do artista entender se é importante formar público lá. O xis da questão é que o Fora do Eixo defende a remuneração dos artistas.

E você pessoalmente também defende? Há relatos de que você é contra artistas receberem cachês.
Eu também defendo. Há cinco anos eu dei uma entrevista falando que o mais importante em festivais é apresentar as bandas em determinadas cidades para 30 mil pessoas, para que elas voltem a fazer shows remunerados. Nunca defendi a não remuneração do artista. Mas cada caso é um caso, e cada artista negocia com cada produtor para decidir o que é melhor para ambos. Tudo que estamos fazendo é para ter sustentabilidade na música. Quando se organiza um circuito de festivais e auxilia a distribuição de CDs, a gente está defendendo uma política de sustentabilidade para eles.

De acordo com uma ficha de inscrição, relacionada na tabela de editais dos coletivos, há a informação de que vocês tiveram a entrada de US$ 4 milhões como financiamento em 2012...
Dólares?

É o que aparece nesse documento...
Ah, velho, eu não sei. Não tive acesso a esse documento. Mas isso não é o que nós temos durante o ano no Fora do Eixo.

Quanto é?
Eu não tenho o número exato, mas esse número não corresponde. Isso aí pode ter sido alguém que escreveu o projeto, não fui eu que escrevi. A rede é grande, alguém pode ter escrito isso para um edital... não sei como foi feito isso aí. A rede é distribuída, o sistema de gestão é um fluxo, né? Não é um panteão de empresas que todo mundo é ligado pelo mesmo caixa. É difícil dimensionar quanto circulou ao todo. É um recurso que circulou lá na ponta e a gente só ajuda eles a entender como esquematizar isso melhor.

Pablo Capilé explica o Fora do Eixo no "Roda Viva"

A "ponta" que você diz é o projeto em si?
Isso, é o coletivo do Amapá, o Goma, por exemplo. O que eles arrecadam fica direto para eles. Mesmo sendo uma ponta no Fora do Eixo, ele não manda esse recurso para nenhum outro tipo de gerenciamento.

O Fora do Eixo em si não recebe nenhum valor nem porcentagem em cima desses recursos?
Nenhuma porcentagem, nenhum valor. Mas às vezes é óbvio que o coletivo de Uberlândia pode emprestar recursos para o coletivo de Manaus. A gente tem um banco que ajuda as duas pontas dialogarem.

É o Banco Fora do Eixo?
É da soma dos coletivos. Cada coletivo também tem um banco, e a soma desses bancos a gente chama de Banco Fora do Eixo. Serve para eles trocarem informações. Um tem a solução e o outro tem o problema, cada um se fortalece.

Como funciona o "cubo card"?
O cubo card é a verdadeira moeda que nos financia. Eu moro em uma casa Fora do Eixo, em São Paulo, que custa R$ 20, 25 mil por mês. Como moram muitas pessoas lá, o custo de cada uma é de R$ 1 mil, mas cada uma faz mais do que isso por mês. É isso que nós chamamos de card. A gente tem um serviço de transmissão ao vivo que no mercado normal custa R$ 5 mil, só que a gente transforma isso em card e oferece isso a parceiros quando eles precisam. Por exemplo, o coletivo do Amapá tem um serviço de design e o coletivo Mundo, lá em João Pessoa, tem o serviço de transmissão. Cada valor tem um serviço e eles vão trocar serviços, então a moeda serve para entender essa troca. Se fosse circular só em real, não ia dar a noção verdadeira do que está sendo movimentado ali. Se fosse em um lugar normal, as pessoas estariam recebendo salário, cerca de R$ 1 mil, mas como ele está no coletivo e não tem um salário, o cubo card é o que vale.

Os próprios colaboradores usam esse card para comprar coisas mais triviais, do dia a dia, como alimentos?
Tem alguns lugares que tem serviços integrados, mas o mais importante do card é o pedagógico. Isso faz as pessoas entenderem que aquilo vale mais do que entrou em real. O card é basicamente uma compreensão de quanto custa aquele serviço disponibilizado. Cada R$ 1 que entra, a gente multiplica por 10 e consegue visualizar como fazer aquilo com pouco.

E como vocês conseguem pagar o custo das casas?
Tem uma série desses serviços que a gente oferece também em real. Coletivo com coletivo fazem troca de serviço, mas se você tem outro parceiro que quer contratar um serviço, também dá. A gente faz palestras remuneradas em alguns lugares, organizamos festivais, fazemos transmissão ao vivo. A soma dos serviços dessas 2 mil pessoas subsidiam as casas, mas tem editais públicos também.

Então o próprio Fora do Eixo também recebe recursos públicos.
A Universidade Fora do Eixo tem o patrocínio da Petrobras. A gente tem a Rede Brasil de Festivais, que começou no Fora do Eixo, mas incentivamos e agora ela anda com as próprias pernas e recebe recursos públicos. Em cada projeto, o recurso é investido no plano de trabalho. Por exemplo, na Universidade tem que promover tantas oficinas, debates, fazer intercâmbios pelo país. Todo esse recurso é voltado para o trajeto que está no plano de trabalho. A Universidade facilita a circulação de pessoas entre os coletivos.

Você leu todos os relatos e críticas ao Fora do Eixo que surgiram essas semanas? Um dos casos mais compartilhados foi o da cineasta Beatriz Seigner. Ela acusou a rede Fora do Eixo de tê-la enganado sobre exibições da produção e omitido patrocínio.
Pelo valor da demanda e o número de pessoas que trabalham, é um processo que é passível de erro. Por um momento, alguém pode ter deixado de receber, um coletivo não pagou o outro. Isso faz parte do processo. Isso não pode ser encarado como uma política nossa. Não temos essa política do calote. É um erro que precisa ser corrigido. Estamos em processo, temos gente no Brasil inteiro. É uma rede em formação.

Você já tinha conhecimento dessas acusações?
Tem várias pessoas cuidando de coisas diferentes. Eu não tenho condições de ter noção de todas as informações. A gente também está trabalhando para que isso não aconteça com frequência. Mas, no caso dela, ela disse ter recebido depois, não?

Ela disse que cobrou publicamente e recebeu nove meses depois. E tem o caso do cantor Daniel Peixoto...
Ele diz que o CD dele foi registrado em outro ISRC [registro das músicas] e que o recurso não foi para ele. O Daniel não era filiado a nenhuma entidade arrecadadora filiada ao Ecad. Como ele queria lançar o disco com a gente, um dos coletivos de São Carlos tinha como fazer esse cadastro e registrou. Esse foi o equívoco: foi registrado em nome de outra banda. Daniel alega que o Fora do Eixo ficou com esse recurso, mas esse recurso fica retido no Ecad. Quando ele regulariza a situação dele com uma arrecadadora, o Ecad repassa esse valor para ele. Ele alega também que teve uma distribuição de CDs e o recurso não foi repassado, mas não tem mais distribuidora de CDs no Brasil, houve um esforço nosso para que isso acontecesse. Alguns foram distribuídos e outros não entraram na prestação de contas. Isso foi feito a posteriori. Como se está tentando dar solidez na distribuição, nem sempre vai dar contento. A regra é facilitar a vida do artista, mas é uma engenharia muito complicada. Se a gente fosse um coletivo só, com algumas ações apenas, teríamos resolvido de modo mais fácil. Mas como são muitas ações, a possibilidade de ter algumas exceções existe. O que não podemos é transformar essas exceções em erros.

Pablo Capilé fala do uso de verbas públicas no Fora do Eixo

No programa "Roda Viva" você disse que cerca de 3 a 7% dos recursos dos coletivos vêm de editais públicos...
Isso. Na real, a gente não é o Estado. O Estado é quem precisa estar dentro da lei da transparência, mas damos o maior número de informações possíveis. A gente presta conta para os órgãos responsáveis, senão seríamos processados. É o único que temos essa obrigação. Nosso banco tem as contas abertas para todo mundo. Não é uma obrigação, mas a gente se esforça para computar qual é a porcentagem de recursos públicos que existe dentro de uma rede como essa. Como o coletivo faz sua própria gestão, não tem como saber exatamente. Um serviço de hotelaria, que recebe subsídio público, não presta contas assim. A gente se esforça para isso, por isso as pessoas cobram

Mas no site de vocês não tem essa informação.
A gente vai lançar um site do Fora do Eixo para tentar disponibilizar o maior número de informações. O que temos é algumas planilhas abertas de forma difusa, sem organização. Eles estarão nesse portal. Quando formos aprovados em um edital, vai entrar nesse portal, já com o plano de trabalho para as pessoas acompanharem.

Vocês tiverem essa ideia nesta semana?
Há uns 30 dias. A gente jogou a ideia, muita gente apoiou e um grupo de desenvolvedores está nesse projeto. A gente produz 300 [eventos] Grito Rock, temos uma estimativa de 3 milhões [de eventos]. É difícil computar quanto circulou em cada Grito. Não é uma conta simples.

Pretendem divulgar também as doações particulares? Parece ser uma grande porcentagem.
Existe um caixa coletivo em cada casa e as pessoas moram nessas casas. Eu sou uma dessas pessoas. O que seria meu salário está lá dentro, então essa é minha doação particular. O Fora do Eixo não me paga um salário. Eu invisto isso no próprio processo. A principal fonte é nosso próprio investimento no processo.

Algumas pessoas relataram que Fora do Eixo adota meios centralizadores de organização, deixando pouca margem ao diálogo.
Eu desafio as pessoas a acharem uma rede que tem tantos parceiros e dialoga com tanta gente como o Fora do Eixo. Eu acho complicado acreditar que tem uma juventude que está no dia a dia trabalhando a não ser pela satisfação de estar ali. Agora, se entre 2 mil pessoas que atuam diretamente, cinco não ficarem satisfeitas, isso não significa o todo. Ao mesmo tempo, não quer dizer que não tenhamos que avaliar as críticas. Nem o céu, nem a terra. Precisamos fazer uma avaliação para que isso não volte a acontecer. É que nem a história dos cachês, não é uma ironia nossa, saca? Nem todas as expectativas das pessoas que estão ali vão ser cumpridas, como qualquer coisa do mundo. Mas está longe de ser a regra. É só conversar com as pessoas que moram lá. Teve várias manifestações das pessoas do Fora do Eixo também nas redes. Isso não significa que vamos reprimir essas manifestações contrárias.

Existem pessoas que dizem ter morado na casa ou participado da rede e que relatam pressão psicológica, até mesmo cerceamento de liberdade com os integrantes. Nesses textos, você é também apontado como um chefe intransigente.
Não, cara. Ninguém fica obrigado em um ambiente como esse. As portas estão abertas o tempo inteiro. Se a rede continua sólida, com cada vez mais gente entrando, é porque o índice de satisfação é grande. Não tem razão você ficar em um lugar em que o cerceamento acontece. O número de pessoas que está lá dentro traduz melhor que minha explicação. Deve ter tido uma ou outra experiência que a pessoa ficou desconfortável. Como esses depoimentos são maiores que as pessoas que estão lá, de 18 a 30 anos, e que podem fazer qualquer coisa da vida? É claro que vamos olhar para ver o que podemos melhorar para que essa interpretação não aconteça. Não se analisa um processo desse pela regra da perfeição. São seres humanos que estão dialogando.

Tem até uma criança morando lá?
Não é isso. As pessoas casam, namoravam, tem filhos. Não é uma casa de marte. É uma casa normal.

O que aconteceu com a favela do Moinho? Há relatos de que vocês não são bem vindos lá.
Tem dois casos lá. Um deles alega que a gente teria feito um evento no Studio SP [casa de shows] em prol da favela do moinho e não repassamos o recurso. Esse evento nunca existiu. Não tivemos envolvimento nenhum com isso. A outra questão que teve foi um evento que aconteceu lá. Recebemos pedidos para ser apoiador de dezenas de iniciativas e um fórum de mulheres solicitou que um dos eventos fosse feito na Casa Fora do Eixo. Depois, ligaram dizendo que não precisava mais, mas o logo do apoio eles mantiveram no panfleto. Eles estavam acusando a gente de ter recebido esses recursos, mas o apoiador é quem investe, não quem recebe recursos.

Há conflitos com outros coletivos de esquerda e movimentos populares?
A gente tenta travar o maior número de parcerias, também somos da periferia do Brasil. Sou de Cuiabá, no Mato Grosso. A gente busca se inserir, mas se tem alguma insatisfação, eu não sei.

Recentemente você postou uma foto com Lula. Como foi esse encontro? Foi em busca de uma parceria com o Instituto Lula?
A gente dialoga com todo mundo, com centenas de deputados e senadores do Brasil, com o Randolfe [Rodrigues], com a Marina [Silva], com o [Marcelo] Freixo. O Lula é ex-presidente da República, né? Para nós é uma coisa normal. Não temos uma parceria, mas também não nos vemos inviabilizados de um dia ter.

Auto/Fonte:  UOL Entretenimento