sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Jornalistas e os riscos na era digital


Um jornalista pesquisando a história de um documento complicado que coloca o seu governo local em maus lençóis fica preocupado que as autoridades vão bisbilhotar em seu computador, então ele usa ferramentas de encriptação para armazenar e enviar por e-mail o documento. Mas, em seguida, ele pega o telefone de casa e fala abertamente sobre a história com seu editor. Talvez não tenha passado pela sua cabeça que as pessoas mais interessadas em manter esse documento em segredo não têm a capacidade de entrar em seu e-mail, mas podem facilmente escutar seu telefonema.

Este é um exemplo hipotético, mas é o tipo de erro que os jornalistas fazem regularmente ao considerar seus planos de segurança. Às vezes sentimos a necessidade de usar ferramentas contra ameaças que realmente não enfrentamos, ignorando os riscos que são mais prováveis.
O aumento da quantidade de trabalho dos jornalistas no mundo digital faz com que seja fundamental proteger nossas atividades. Nos velhos tempos, nós poderíamos apenas colocar os nossos documentos em um armário de arquivo trancado e realizar nossas conversas frente a frente para evitar espionagem.

Isso não funciona mais.



Hoje, há uma grande variedade de ameaças e cada tipo de ameaça exige uma medida de proteção diferente em resposta. No mapa Periodistas en Riesgo (Jornalistas em Risco) que rastreia ataques contra a imprensa no México, documentamos vários casos de hacking, ataques de negação de serviço (DOS, em inglês) e roubo de computadores e dispositivos móveis que podem comprometer as informações de um jornalista. Sem mencionar que há provavelmente muitos casos de repórteres e editores com escutas em seus telefones sem ter a mínima ideia.

Hoje, um plano de segurança digital é essencial para os jornalistas, mas as especificidades de cada plano irão variar, pois depende da avaliação dos riscos específicos de cada pessoa. Nas oficinas que realizo com jornalistas mexicanos como parte do meu Knight International Journalism Fellowship do ICFJ, eu ouvi muito sobre as diferentes ameaças que jornalistas enfrentam no mundo digital. Um aspecto importante do treinamento é fazer com que os participantes fiquem cientes de que as ferramentas que são melhores para eles podem não ser as melhores para os seus colegas.

Formular seu plano pessoal de segurança digital começa com o estabelecimento de seus próprios riscos prováveis. Para isso, você precisa saber quem ou o que pode ser uma ameaça para você, quais são as suas capacidades e intenções, como estão dispostos a atacá-lo e, finalmente, suas próprias vulnerabilidades e pontos fortes.

Aqui estão cinco perguntas que o ajudarão a decidir quais as ferramentas ou técnicas deve usar:

1. Que atividades ou informações você precisa proteger?
Há muitas atividades digitais que merecem proteção, como comunicação (e-mails, mensagens, telefonemas); armazenamento (ou em nuvem ou em dispositivo); navegação na Web; redes sociais; uso de ferramentas e dispositivos de localização; e salvamento de senhas.
Para tornar essas atividades mais seguras, você deve tomar certas ações o tempo todo: Sempre use um software antivírus, senhas fortes e configurações de privacidade rigorosas. Isso irá proteger 90 por cento do que você faz online. Você pode guardar outros métodos, tais como comunicações ou armazenamento seguro, para algo específico, como uma matéria delicada.

2. Quem quer atacá-lo?
A ameaça mais imediata para os jornalistas vem de suas fontes ou de sujeitos que os jornalistas cobrem, mas também pode haver agressores desconhecidos interessados em suas atividades ou informações.
3. Quem tem a vontade e capacidade de me fazer mal?
Uma pessoa interessada em conhecer as atividades digitais de um jornalista pode ter uma grande vontade de obter essas informações, mas não ser capaz de fazê-lo. Por outro lado, pode haver pessoas ou entidades com grandes capacidades, mas que não se importam com o que o jornalista está fazendo. No entanto, tenha em mente que alguém com baixa capacidade mas grande vontade pode trabalhar para melhorar suas ferramentas para fazer hacking ou espionagem, ou alguém com pouca vontade, mas grande capacidade pode mais tarde desenvolver o desejo de espionar a atividade digital de um jornalista.

4. Onde estão suas vulnerabilidades? Como você está interagindo no mundo digital?
Qual serviço de e-mail você usa e quão seguro é? Você armazena dados em serviços de nuvem ou dispositivos criptografados ou não garantidos? A função GPS do seu telefone sempre está ligada para que todos saibam onde você está? Tenha em mente que depende da situação se você deve ou não ativar o GPS. Na maioria das vezes, você está mais seguro se deixá-lo desligado, mas, em alguns casos como em trabalhos em ambientes perigosos, isso pode ajudar a manter o controle de seu paradeiro caso algo aconteça e entes queridos precisem achar você.
Você publica informações sobre sua vida privada nas redes sociais? Se sim, quem pode ver? Como são protegidos os seus dispositivos móveis? Se alguém roubar seu telefone celular, por exemplo, seria fácil obter informações a partir dele?

5. Quais são os seus pontos fortes e quais são as ferramentas que você já está usando para reduzir suas vulnerabilidades?
Conhecer a vasta gama de ferramentas de segurança digital disponíveis pode ajudar o jornalista a transformar seus pontos fracos em fortes.
Existem dezenas de ferramentas disponíveis para melhorar a nossa segurança digital, mas tudo depende se elas realmente atendem às nossas necessidades. A única maneira de descobrir é fazer uma avaliação de risco pessoal para saber exatamente o que estamos precisando.

Via IJnet

Nenhum comentário:

Postar um comentário