Marcha até o Palácio da Justiça de Maracaibo. Foto: 18 de fevereiro de 2014 via Wikimedia Commons
Nu Wexler, porta-voz do Twitter, disse à BBC Mundo que acredita que o
governo esteja bloqueando o conteúdo, já que os afetados afirmam que o
problema se produz exclusivamente em conexões do provedor de internet
Compañía Anónima Nacional Teléfonos de Venezuela (Cantv), embora a
empresa, que fornece mais de 90% da conexão à internet no país, tenha desmentido.Segundo o jornal La Nación, este apagão informativo é o pior que os venezuelanos já sofreram em décadas: os canais privados se autocensuram e não dão informação que contradiga a versão oficial sobre as manifestações, e os canais públicos operam como porta-vozes do governo. Globovisión, canal de notícias crítico ao governo, foi comprado por entidades próximas a Maduro, e vários jornalistas renunciaram após a evidente censura dos protestos da semana passada.
Com a censura da mídia, Twitter é uma das poucas janelas que os venezuelanos opostos ao governo têm para difundir a informação que os meios não mostram, apesar de haver sempre o risco da mensagem, que se difunde de forma não centralizada, ser passada sem a devida verificação.
Segundo La Nación, a censura à mídia é resultado de uma lei venezuelana que proíbe que se faça apologia ao ódio e à violência, o que gera problemas porque a redação da lei deixa aberto aos funcionários do governo interpretar o que constitui "ódio e violência".
"Fui chamado de ditador, não importa. Mas vou endurecer as normas para acabar com o sensacionalismo e com a propaganda que alimenta a morte”, disse Maduro, justificando a perseguição à imprensa. Nas últimas semanas, Maduro acusou a imprensa internacional de atentar contra o governo e de instigar uma guerra civil.
A Sociedade Interamericana de Imprensa condenou a censura e repressão a meios do país, e também se manifestou em relação à hostilidade aos jornalistas estrangeiros. Segundo dados publicados pelo Colegio Nacional de Periodistas, Sindicato Nacional de Trabajadores de Prensa, e a organização não governamental Espacio Público, 55 de 61 casos reportados de violações `s liberdade de expressão correspondem a agressões contra jornalistas enquanto cobriam as manifestações em todo o país.
Segundo Infobae, o apagão informativo também foi fortemente criticado pela Associação de Entidades jornalísticas Argentina (ADEPA), e seus pares no Brasil, Colômbia, Chile, Equador e Peru.
Desde a tentativa de golpe de Estado em 2002, quando o presidente Hugo Chávez foi tirado temporariamente do poder, o governo reprime a mídia. Radio Caracas Televisión cessou transmissões em 2008 depois que Chávez se negou a renovar sua licença de operação, acusando-os de haver incitado o golpe, segundo La Nación.
Também foram fechadas várias estações de rádio comerciais, substituídas por emissoras “neutras” sem estilo informativo. Nos últimos meses, vários jornais precisaram parar de circular por falta de papel na Venezuela.
BBC Mundo publicou uma lista de opções para fugir da censura dos provedores de internet, e Repórteres Sem Fronteiras (RSF) publicou uma carta aberta a Maduro denunciando que o direito à informação está em risco na Venezuela.
Fonte: Jornalismo nas Américas