segunda-feira, 17 de julho de 2017

Inteligência artificial: Pode um robô ser presidente?

Alguns cientistas acreditam que a inteligência artificial pode tomar melhores decisões do que o líder de um país: um robô não pode ser comprado por lobistas nem será influenciado pelo dinheiro ou incentivos pessoais.

O presidente norte-americano, Donald Trump, passa as noites sozinho na Casa Branca a ver as notícias de todo o mundo. Do tempo em que era empresário herdou ainda o hábito de se levantar de madrugada para escrever no Twitter onde publica o que lhe vai na alma – o vídeo em que aparece a bater num homem com o logotipo do canal televisivo CNN foi um dos mais recentes.

Agora, de acordo com a “Politico Magazine”, um pequeno grupo de cientistas e pensadores acredita que pode haver uma alternativa de salvar o presidente – e o resto da humanidade- destes ataques de raiva. Assim que a tecnologia avançar o suficiente, eles acreditam que se deve colocar um computador a cargo do país. O objetivo é que seja a inteligência artificial a tomar as decisões mais complicadas. Pode fazê-lo “melhor e sem o drama dos nossos presidentes humanos”, avisam.

No entanto, se imagina uma máquina do estilo “Terminator” está enganado. A máquina estaria guardada num qualquer armário na Casa Branca. Para estes cientistas, um robô pode levar em conta grandes quantidades de dados sobre uma determinada política. Poderia ainda prever armadilhas que escapassem à mente humana e pensar as opções de forma mais fiável, sem impulsos ou tendências individuais.

Mark Waser, um especialista em Inteligência Artificial, afirma que os robôs tomarão melhores decisões do que os humanos. Natasha Vita-More, presidente de uma organização sem fins lucrativos, “defende o uso ético da tecnologia para expandir as capacidades humanas” e espera que seja possível ter um líder que não possui um corpo humano.   
Também o empreendedor Zoltan Istvan afirma que com a inteligência artificial “um presidente não pode ser comprado por lobistas nem será influenciado pelo dinheiro, incentivos pessoais ou incentivos familiares”.

Esta é uma ideia que tem feito parte da ficção científica desde a década de 50. Já o escritor Isaac Asimov imaginava um mundo em que as máquinas pareciam ter consciência e inteligência humana. 

Claro que substituir um humano por um robô na Casa Branca não seria simples. Como é que uma máquina se encaixaria num sistema democrático? E como decidiria sobre questões morais? Segundo Istvan os eleitores deveriam ser chamados a pronunciar-se sobre a programação inicial do sistema e os programadores também deveriam ser nomeados por voto popular.

Alguns cientistas mantêm mesmo a convicção de que um robôt pode liderar uma nação no espaço de 30 anos, o que obrigaria a alterações na Constituição. No entanto, nem todos estão de acordo com este pensamento. “Os sistemas tecnológicos não são livres de preconceitos nem automaticamente justos apenas porque são números”, diz Madeleine Clare Elish, uma antropóloga na Universidade de Columbia. “O meu maior medo é que a tecnologia possa codificar os preconceitos e defeitos dos seus criadores”, alerta.

Fonte: Jornal Económico

terça-feira, 4 de julho de 2017

Gerações conectadas: Pesquisa mostra mudanças no consumo

Cléa Rubinstein, aos 71 anos, usa a tecnologia com a mesma facilidade que os netos Gabriel (4) e Dora (10), seja usando o Whatsapp para falar com uma filha que mora em Londres ou com a outra, mãe das crianças, que reside na mesma rua que ela. Nascida em Olaria, na Zona Norte do Rio de Janeiro, desde os oito anos ela mora em Copacabana. Já são sete décadas e várias mudanças de estilo de vida, refletidas na evolução do orçamento familiar.

Filha de imigrantes judeus que aqui chegaram vindos da Romênia na década de 1930, D. Cléa recorda o ambiente familiar da infância:
“Falávamos português e iídiche em casa. Preparávamos pratos típicos judaicos em celebrações e, de vez em quando, era preciso fazer alguma adaptação. O gefilte fish, por exemplo, que é um bolinho de peixe típico judaico, é feito com carpa, um peixe de rio, mas nossa família teve que se adequar aos peixes nacionais”.

De lá pra cá, a receita já mudou de novo e hoje os restaurantes judaicos costumam usar processador elétrico para moer a tilápia, um peixe fluvial africano que foi introduzido no Brasil para a pesca artesanal nos anos 80 e hoje representa cerca de metade da produção da piscicultura no país.
Assim como os hábitos culinários e alimentares mudaram, também os orçamentos familiares se adaptaram aos novos tempos. As despesas com alimentação, que ocupavam mais de um terço (33,9%) das contas das casas nos anos 70, tiveram sua influência reduzida a menos de um quinto (19,8%) em 2008-2009.

Do caderno de dedicatórias às redes sociais

Cléa também se lembra das conversas com as colegas de escola numa época sem celulares, Orkut ou Facebook: “Quase todas as meninas tinham cadernos de mensagens, em que os colegas escreviam dedicatórias no fim de cada ano. Eram mensagens de amizade e bem-querer, não se revelava nenhum grande segredo. Era tudo bem público e respeitoso. Aquilo servia como uma espécie de rede social da época, considerando-se as devidas proporções.
As conversas dos jovens também já eram longas na época do telefone fixo: “Falávamos muito ao telefone. Era só um aparelho na sala de estar, sem extensões para outros cômodos da casa. Às vezes, nossos pais reclamavam e tínhamos que desligar na hora”.
Essas e muitas outras informações são coletadas pelo IBGE desde o Estudo Nacional da Despesa Familiar (Endef), feito em 1974-75. Depois, foi realizada a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) em 1996, 2002-2003 e 2008-2009. A coleta da próxima edição da pesquisa começou em 26 de junho e vai até 2018.

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Um salto no peso das crianças

A POF também revelou um salto no número de crianças de 5 a 9 anos com excesso de peso ao longo de 35 anos: em 2008-09, 34,8% dos meninos estavam com o peso acima da faixa considerada saudável pela OMS. Em 1989, este índice era de 15%, contra 10,9% em 1974-75.O padrão era semelhante nas meninas, que, de 8,6% na década de 70, foram para 11,9% no final dos anos 80 e chegaram aos 32% em 2008-09.


Texto: Eduardo Peret

Imagem: Licia Rubinstein

Infográfico: Luiz Arbex